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Dão retoma o Baile Noite Preta com participação de Escurinho

Após período longe dos palcos, Dão leva sua força sonora e alegria para além dos espaços virtuais

Publicado segunda-feira, 06 de junho de 2022 às 06:00 h | Autor: Álene Rios
Imagem ilustrativa da imagem Dão retoma o Baile Noite Preta com participação de Escurinho

Os domingos acompanhados de muito som, amigos e feijoada na casa da mãe foram a porta de entrada da música para o cantor e compositor Dão. Ainda quando tinha pouca idade, as reuniões ao som de Paulinho da Viola, Tim Maia, Paulinho Diniz, entre outros, eram também sinônimos de muito samba, dança e felicidade.

Isso marcou a forma como ele enxerga a arte: uma potência que alegra os encontros da vida. “Nunca esqueci essa lembrança afetiva dentro da minha casa e acabei vendo que o melhor, para mim, era ser músico porque seria mais feliz”.

Após um período longe dos palcos, devido à pandemia, Dão leva sua força sonora e alegria para além dos espaços virtuais. E vai ser em grande estilo: nesta sexta-feira (10), às 20h, no Largo Quincas Berro d’Água (Pelourinho), acontece a 5ª edição do Baile Noite Preta.

A participação especial, na abertura, vai ser do cantor e compositor pernambucano radicado na Paraíba Escurinho, considerado um mestre. Em outras edições, já estiveram com o artista baiano nomes como Lady Zu, Paula Lima, Lazzo e Ile Aiyê.

“Escurinho mistura muita coisa de coco, ciranda, rock, e faz fusões que enriquecem a música. Acho que quando você propõe à sociedade baiana assistir um encontro de dois artistas levando sonoridades próximas e ao mesmo tempo diferentes, tem a possibilidade de as pessoas assistirem uma noite especial de cultura negra viva e potente”, diz o anfitrião.

Durante os mais de 15 anos de carreira, Dão sempre procurou inovar, buscando sempre mais. É o tipo de artista que não deixa de criar e procurar novas formas de fazer com que ele e o público continuem se identificando com o que é produzido num processo de pesquisa quase que infinito.

“A arte ocupa o lugar da tranquilidade na minha alma, porque acho que todo mundo que tem os seus problemas na vida toma o seu elixir, e acho que o meu elixir é esse, é o meu remédio que me faz sentir melhor”.

Sambadelic

Com dois discos já lançados, Embelezar a noite (2008) e Nobre Balanço (2014), no palco Dão dá continuidade ao projeto Sambadelic 2020 e tals, que já lançou três singles, Menina do cabelo black, Olha o samba sinhá (de Candeia) e Pra qualquer lugar, disponíveis nas plataformas digitais.

A proposta é finalizar o ano com 10 canções, resultado de uma pesquisa sobre as raízes do samba e pretende fundir samba de roda, samba-reggae, samba-funk, soul, jazz e rap.

“Tenho uma história muito profunda com o samba duro, que é também chamado de samba junino, e que acontece justamente nessa época do São João. Cresci num bairro em que já existia o samba duro, também sou muito conectado com o ijexá e com os batuques de terreiro, os batuques de terreiro fazem pulsar o meu coração no lado da música”, diz.

 Convidado mais que especial do Baile Noite Preta, Escurinho vem de uma tradição familiar musical e, após sair de Serra Talhada (PE) para Catolé do Rocha (PB), fundou o grupo Ferradura com alguns amigos, entre eles o cantor e compositor Chico César.

Eram os anos 1970, período em que a repressão da ditadura assombrava, mas os movimentos estudantis resistiam e produziam festivais de música em diversas localidades.

 Ciranda de maluco

Quando foi para a capital, João Pessoa, para o Conservatório de Música, ele viu a sua carreira se profissionalizar ainda mais e conheceu o teatro, que o instigou a trabalhar suas músicas autorais.

Em sua discografia, constam os discos Labacé (1995), Malocage (1992), Toca Brasil (2004), O princípio básico (2012), e o mais recente, Ciranda de maluco, vol. 1, de 2015, e pretende lançar um álbum novo em agosto deste ano.

“Tenho trabalhado para entender as nossas raízes, nossa ancestralidade, esse tempo todo, para viver melhor, porque a indústria é muito cruel. A cultura negra, apesar de ter sido usada por toda a sociedade, por mais que nossa ancestralidade tenha sido utilizada para fortalecer vários tipos de cultura, nós, os artistas negros, o povo negro, não temos um mercado destinado à grande obra produzida pela comunidade negra”, afirma Escurinho.

O artista conheceu Dão através do ator e afrochef Jorge Washington. “Dão é um cara maravilhoso, falo com ele pela internet e parece que a gente é irmão. Quando falo com ele tenho uma sensação que a gente já se conhecia, antes de chegar já estou me sentindo muito em casa por conta disso”.

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