TIROTEIO NO SUBÚRBIO
Fazenda Coutos: familiares apontam que número de mortos pode ser maior
Homens foram mortos dentro de uma residência na rua Teotônio Vilela, na Suburbana
Por Andrêzza Moura

"Não foram 12 nada. Eles mataram 14. Um foi meu irmão, que tinha 17 anos. Ele não era bandido, não, trabalhava vendendo jujuba", revelou uma jovem, ao afirmar que nem todos os mortos, na terça-feira, 4, na Rua Teotônio Vilela, em Fazenda Coutos, Subúrbio Ferroviário de Salvador, em um suposto confronto com Policiais Militares das Rondas Especiais Baía de Todos-os-Santos (Rondesp/ BTS), tinham envolvimento com a criminalidade.
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Ela disse que seu irmão, o vendedor ambulante Davi Costa dos Anjos, era inocente e que estava no imóvel, onde os outros homens foram mortos, porque não teve outra opção, a não ser correr para se esconder, já que os policiais chegaram à rua atirando.
"Quando eles [policiais] chegaram, quem não se devia nada, saiu correndo e invadiu a casa. Vizinhos ouviram eles pedindo socorro, dizendo que não se envolviam com nada. Mas disseram [PMs] que iam matar todo mundo. Para meu irmão, disseram que iam só deixá-lo aleijado para servir de exemplo, mas também o mataram", contou a mulher, enquanto resolvia os trâmites para liberar o corpo do adolescente, no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), na tarde desta quarta-feira, 5.
A irmã do adolescente Francisco Meriel Freire Santos, 17, que também teria sido morto na ação, declarou que ele não se envolvia com o crime. Conforme ela, o rapaz, que trabalhava como pedreiro, foi baleado nas costas, enquanto eles conversavam, na porta de casa. "A gente estava sentado na porta de casa, aí eles [PMs] deram um tiro nas costas, depois puxaram ele e deram mais tiros", narrou a mulher.
Com relação ao número de mortos citado pela irmã de Davi, uma fonte que trabalha no Nina Rodrigues confirmou a versão apresentada por ela. "Foram 14 cadáveres, o pessoal está dizendo 12, mas é mentira. Quem sabe se são 14 ou 12 é a gente que trabalha aqui [IML]. Todos os 14 são de Fazenda Coutos. Primeiro chegou 13, quando a gente já estava cuidando [fazendo autopsia], aí chegou mais um. Três com cara de seus 40 anos, esses três pareciam ser chefões. O resto foi tudo de 17 anos, tinha 18, 19, 20 anos, tudo assim", afirmou o rapaz, sob anonimato.
Procurada pelo Portal A TARDE, a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP/ BA), por meio da assessoria de comunicação, reafirmou que foram realmente 12 mortos e que todos tinham envolvimento com a criminalidade. Inclusive, os homens integravam uma facção criminosa e teriam sido flagrados, na madrugada do dia 3, por imagens de câmeras de segurança do Largo da Fazenda Coutos seguido em direção à Rua Teotônio Vilela. Na gravação, que a reportagem teve acesso, é possível ver cerca de 13 suspeitos, alguns fortemente armados e com os rostos cobertos.
Ainda de acordo com a SSP, depois de invadir uma área comandada por uma outra facção e trocar tiros com os rivais, no dia anterior, o grupo foi denunciado por moradores da localidade. Versão oficial dá conta de que os homens receberam os policiais a tiros e depois entraram em uma residência, onde houve outro confronto. Após serem baleados, eles foram levados ao Hospital do Subúrbio, mas não resistiram aos ferimentos. Com o bando, conforme a SSP, foram apreendidas oito pistolas, dois revólveres, duas metralhadoras, um facão, diversas munições, rádios de comunicação e drogas.

Durante toda essa quarta-feira, familiares dos homens estiveram no IML para fazer a liberação dos corpos. Até às 16h, segundo informações da fonte que trabalha no órgão, quatro corpos haviam sido liberados, um desses para o Cemitério Quintas dos Lázaros. A assessoria da SSP ficou de confirmar os nomes dos mortos e informar se os corpos haviam sido liberados, no entanto, até o fechamento dessa matéria, não havia dado retorno. A assessoria da Polícia Civil também foi procurada, mas, não respondeu.
A reportagem esteve na Fazenda Coutos, na tarde da quarta-feira, e o clima na região era de tranquilidade, apesar da situação. Boa parte do comércio permaneceu fechado e o policiamento foi reforçado. O serviço de transporte público foi suspenso no bairro e os moradores que precisavam pegar ônibus tiveram que seguir até Vista Alegre, para onde o final de linha foi deslocado temporariamente.
"Após a decisão de retirada dos coletivos por parte das empresas, seguimos o protocolo comumente adotado em outros A.R, em conformidade com a Polícia Militar, SEMOB, Integra e Sindicato, visando a proteção da categoria rodoviária, usuários do transporte e também dos coletivos", diz um trecho da nota do Sindicato dos Rodoviários.
OUTRA CHACINA
No dia 6 de fevereiro deste ano, uma outra chacina, que chamou a atenção da população soteropolitana, completou dez anos. Em 2015, também no período do Carnaval, 12 jovens, com idades entre 16 e 27 anos, morreram, na Vila Moisés, na Estrada das Barreiras, no Cabula. À época, os nove policiais militares envolvidos na ação alegaram que os rapazes foram mortos em confronto, quando se organizavam para assaltar a agência da Caixa Econômica do bairro.
Na ocasião, a SSP também afirmou que Evson Pereira dos Santos, 27 anos, Ricardo Vilas Boas Silvia, 27, Jeferson Pereira dos Santos, 22, João Luis Pereira Rodrigues, 21, Adriano de Souza Guimarães, 21, Vitor Amorim de Araujo, 19, Agenor Vitalino dos Santos Neto, 19, Bruno Pires do Nascimento, 19, Tiago Gomes das Virgens, 18, Natanael de Jesus Costa, 17, Rodrigo Martins de Oliveira, 17, e Caique Bastos dos Santos, 16 anos, tinham envolvimento com a criminalidade. Familiares deles negaram.
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