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LGBTs lidam com coragem contra estigmas relacionados ao HIV e Sífilis

Estigmas e tabus cercam as ISTs e HIV, mas pessoas do grupo LGBTQIA + lidam com tranquilidade com o tratamento

Por Felipe Sena

12/09/2024 - 6:00 h
No domingo aconteceu a 21ª Parada do Orgulho LGBTQIA +, na Barra
No domingo aconteceu a 21ª Parada do Orgulho LGBTQIA +, na Barra -

Medo, tabu e estigmas ainda cercam as pessoas que vivenciam Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), HIV e Aids. Começaram a circular até algumas publicações em redes sociais, como o X, antigo Twitter, que não está mais em atividade, sobre homens gays que sentem vergonha ao se dirigir a unidades de saúde para pegar a PrEP, medicamento que previne o HIV.

Acabei contraindo por causa de um estupro
Cristina*

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No entanto, pessoas que pertencem ao grupo LGBTQIA + vem desmistificando isso e mostrando força e coragem para lidar com o processo de tratamento das doenças. “Sempre tive cuidado com essas questões, não transava sem prevenção, mas não tinha conhecimento sobre o vírus, acabei contraindo por causa de um estupro e fui diagnosticada através de um teste rápido”, diz Cristina*, de 36 anos, que é transexual e afirma que hoje lida com o tratamento do HIV e Sífilis com “tranquilidade”.

"Depois disso, eu terminei com ele, até conhecer o atual, que também é soropositivo”
Alessandro

Alessandro, de 36 anos, também contraiu HIV, mas, por manter relações sexuais com uma parceiro que vivia com vírus e não tinha relatado para ele. “Depois disso, eu terminei com ele, até conhecer o atual, que também é soropositivo”, relata ele que explica que ao ser diagnosticado teve todo o apoio da mãe, e que apesar da “angústia” inicial, hoje também lida com o processo de tratamento de maneira leve.

“Eu descobri em 2016, era muito novo e não sabia a partir daquele momento como seria ter um relacionamento com outra pessoa se eu falasse que eu era soropositivo”, diz. De acordo com levantamento da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab), em 2023, a Bahia registrou 2.304 casos de HIV e a taxa de incidência de 15 casos por 100 mil habitantes. A Sífilis também foi outra IST que registrou diversos casos na Bahia. Em 2023, foram 9.443 casos.

Discriminação e preconceito

Eu tinha uma visão marginalizada do vírus, como se fosse uma Aids
Cristina*

Cristina* diz que antes de entender sobre o vírus, tinha preconceito a respeito do HIV. “Eu tinha uma visão marginalizada do vírus, como se fosse uma Aids”. Após o diagnóstico, ela relata: “cheguei em casa, chorei, no outro dia fui me recompondo e direcionada para alguns lugares [de atendimento]”.

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Ela afirma que graças a orientação de uma médica infectologista em uma unidade de saúde em Salvador, começou a compreender melhor o HIV. “Em menos de 10 dias eu tive o resultado de todos os exames e comecei o tratamento com menos de 10 dias. Eu lembro que tenho [HIV] só quando todo o medicamento, mas durante todo o dia eu nem me recordo”, diz.

Já Alessandro diz que já chegou até a ser demitido pelo preconceito por ser uma pessoa que vivencia o HIV. Ele relata que precisou colocar atestado médico para não trabalhar em um determinado dia por causa do tratamento. Seu chefe, na época, pesquisou o instituto médico e percebeu que se tratava de uma unidade de saúde em que se realizava teste rápido de HIV e o demitiu.

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Depois do ocorrido, ele procurou a Justiça. “Ganhei a causa”, diz. Hoje, com um companheiro também soropositivo, Alessandro relata que o namorado tem vergonha de falar sobre o HIV. “Eu que faço marcação de exame, eu que vou buscar os medicamentos dele, então hoje eu vivo à margem da minha sorologia”, diz.

Já Cristina* que está solteira diz que quando inicia um relacionamento com alguém fala que é soropositiva.

Está relacionado ao medo de se expor, de falar, de se sentir culpado. Além do estigma relacionado a alguns corpos LGBTQIA +, como corpos transexuais
Franclin Rocha

O mestrando do programa PPGAC, da UFBA, Franclin Rocha, que estuda a cena de artistas que vivem com HIV e Aids com discurso de vida e não morte, explica que vários problemas sociais estão envolvidos nos estigmas que pessoas que vivenciam as ISTs sentem. “Está relacionado ao medo de se expor, de falar, de se sentir culpado. Além do estigma relacionado a alguns corpos LGBTQIA +, como corpos transexuais”.

Para o pesquisador, é necessário desmistificar os estereótipos atrelados a uma pessoa com HIV, pois de acordo com ele, o sexo deve pensado com uma ação de corresponsabilidade, “daqueles que se encontram”. Além de desestruturar o tabu relacionado à sexualidade, o que deve fazer parte da educação nas escolas. “A educação sexual não entra nos currículos”.

Segundo Franclin também é importante que falar sobre ISTs, HIV e Aids de forma não pontual, como ocorre em festas populares como Carnaval e São João, mas o ano inteiro. Além da promoção propagandas e políticas públicas não só em Salvador, mas no interior da Bahia, “onde o estigma é ainda maior”.

PrEP: uma via de mão dupla

Quando contraiu HIV, Alessandro ainda não existia a PrEP, Profilaxia Pré-Exposição, que começou a ser usada no Brasil em 2018. A PrEP é um tratamento preventivo que consiste na toma de comprimidos anti-HIV antes de uma relação sexual, com o objetivo de impedir que o vírus se estabeleça e se espalhe no organismo.

PrEP é uma forma de se prevenir contra o HIV
PrEP é uma forma de se prevenir contra o HIV | Foto: Reprodução

O infectologista e coordenador do ambulatório de PrEP no Cedap, Alessandro Farias, explica que a PrEP é uma das formas de prevenir o HIV. No entanto, para consumir o medicamento é necessário que a pessoa tenha uma relação sexual programada, para casos de emergência, o correto é o uso da camisinha.

Se toma dois comprimidos 2 horas a 24 horas antes da relação, um comprimido após 24 horas da dose inicial e um um outro comprimido 48 horas depois da primeira dose
Dr. Alessandro Farias

“Se toma dois comprimidos 2 horas a 24 horas antes da relação, um comprimido após 24 horas da dose inicial e um um outro comprimido 48 horas depois da primeira dose”, explica o infectologista. Contudo, a Prep não combate todas as ISTs. “As outras ISTs são prevenidas com camisinhas de uso externo ou interno e vacinas para algumas doenças”, explica o especialista.

Infectologista Alessandro Farias explica como funciona a ação da Prep
Infectologista Alessandro Farias explica como funciona a ação da Prep | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

Para o infectologista, a PrEP deve ser combinada com outros cuidados para que as pessoas não venham a contrair o HIV ou outras ISTs. “A PrEP é uma estratégia de prevenção; de forma ideal esta tecnologia de prevenção deveria estar combinada com uso consistente de preservativos, testagens regulares de HIV e outras ISTs e tratamento precoce das ISTs detectadas. Vacinação contra hepatite B e HPV é outra estratégia relevante. Procurar estar sob proteção também contra Hepatite A e estar atento para a chegada mais ampla de vacina contra Mpox, no momento focada em pessoas vivendo com HIV”, ressalta.

Além da PrEP, existe também a PEP, Profilaxia Pós-Exposição, medida de urgência para prevenir a infecção pelo HIV, hepatites virais e outras infecções. A PEP deve ser usada preferencialmente duas horas e no máximo 72 horas após relação sexual sem uso de preservativo, situação de uma possível exposição ao HIV.

Diferença entre ISTs, HIV e Aids

Diferente do que muitos pensam, existe uma diferença entre ISTs, HIV e Aids. As ISTs são causadas por micro-organismos como vírus, bactérias e fungos. Já o HIV é um vírus classificado como uma IST que ataca o sistema imunológico, principalmente os linfócitos T-CD4+, que são células de defesa do organismo.

A Aids é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, que ocorre em estágios avançados da infecção pelo HIV. A Aids é caracterizada pela diminuição da atividade do sistema imunológico, o que pode levar ao desenvolvimento de outras doenças. Apesar de ser derivada do HIV, a Aids e o HIV não são sinônimos.

Unidades de saúde para pessoas LGBTQIA +

Em setembro de 2023, foi inaugurado o Ambulatório Municipal Especializado em Saúde LGBTQIA +
Em setembro de 2023, foi inaugurado o Ambulatório Municipal Especializado em Saúde LGBTQIA + | Foto: Reprodução | Secretaria Municipal de Saúde

Em setembro de 2023, foi inaugurado em Salvador, o Ambulatório Municipal Especializado em Saúde LGBTQIA + pela Prefeitura de Salvador. Além desse local, existem outros espaços para acolhimento de pessoas diagnosticadas com ISTs, HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis.

Também existem unidades que ofertam PrEP através do SUS, após inscrição e exames. Confira:

1. SAE Marymar Novaes – End: Rua Arthur Bernardes nº 1, Dendezeiros. Tel: (71) 3202-1606

2. SEMAE Liberdade – End: Rua Lima e Silva, n° 217, Liberdade. Tel: (71) 3021-7329

3. ICOM – Instituto Couto Maia – End: Rua Coronel Azevedo, s/n, Cajazeiras II. Tel: (71) 3103-7150/7210 / (71) 31037168 (WhastApp).

4. CEDAP – End: Rua Comendador José Alves Ferreira, nº 240, Garcia. Tel:(71) 3116-8888 / (71) 99673-3006 (WhastApp).

5. UDM Comércio (consulta na rede privada e retirada do medicamento no SUS). End: Condomínio Edifício Conde dos Arcos – Av. Jequitaia, 40 – Comercio, Salvador, Bahia.Tel: (71) 3202-1113.

*Nome da fonte foi preservada nesta matéria

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Tags:

aids Bahia HIV ISTs LGBTQIA + PrEP Salvador sesab

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