MESTRE JORNALEIRO
Morre aos 99 anos o mais antigo jornaleiro de A TARDE
Muito além da venda de jornais, ele criou projetos sociais e formou jovens jornaleiros

Por Andrêzza Moura

Por quase um século, seu Nelson Nascimento Gomes dedicou-se a uma missão simples, porém grandiosa: levar notícias, formar leitores e acolher vidas. Entre ruas e esquinas do Centro de Salvador e as páginas do Jornal A TARDE, construiu uma trajetória única como o gazeteiro mais antigo do periódico centenário da Bahia.
Figura querida e conhecida por todos que circulam pelo centro da capital baiana, seu Nelson faleceu na manhã dessa segunda-feira, 8, aos 99 anos, no Hospital Mont Serrat, na Cidade Baixa, em Salvador, por falência dos rins. "O rim reparou de funcionar, porque o organismo já estava pedindo para ir descansar. Mas ele não tinha nenhuma comorbidade", explicou Verônica Nascimento, filha do idoso.
Ele já havia ficado internado na mesma unidade de saúde, para tratar uma pneumônia. Mas, foi tratado e liberado para casa. "Ele ficou lá para cuidados paliativos, ficou internado há 15 dias atrás e deram alta, porque ele estava apresentando uma inflamação, mas diante da medicação, suspenderam porque tinha superado", lembrou a filha.
Mais do que um simples vendedor de jornais, seu Nelson era um contador de histórias, um educador informal e um homem à frente do seu tempo. Ele manteve viva a tradição de vender os exemplares do A TARDE até 2019 - um ano antes da pandemia da Covid-19-, quando foi convencido pelas filhas a encerrar as atividades.

"Ele trabalhou até os 93 anos porque a gente pediu para ele parar, porque não tinha necessidade de ir para a rua. Mas, tinha o prazer de ir entregar os jornais aos clientes antigos que tinha. Então, ele ia todo santo dia, 7 da manhã, 6 e meia, pegava o jornal dos clientes dele, entregava, dava um tempinho lá, almoçava na rua e voltava três horas da tarde", contou Verônica.
Das barracas à missão de acolher
Antes de trabalhar entregando jornais, o senhor foi dono de algumas barracas de revistas localizadas na porta do Edifício Sulacap, na Ladeira de São Bento, na Praça Castro Alves, em frente onde hoje é Cine Glauber Rocha, na Rua da Independência e no Largo dois de Julho.

Em 1960, quando fez votos de castidade, pobreza e obediência na igreja Católica, o senhor se desfez de todas as barracas e passou um período sem vender jornais. No entanto, não aguentou e voltou a trabalhar.

"Eu me lembro de muita coisa. Lembro que meu pai acordava cedo para pegar esse jornal de madrugada, ainda quando o posto do A TARDE ainda era no edifício que hoje é um Hotel Fasano [Rua Chile]. E ele ia pegar o jornal para distribuir, para vender. Independente das bancas de revista ele pegava os meninos [que ficavam nas ruas], recolhia e tirava daquela situação de risco e botava para vender jornais. Então, ele criou uma instituição chamada União Católica dos Pequenos Jornaleiros", lembrou Cristina Nascimento, filha mais velha de seu Nelson.
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Prêmios, homenagens e a banca premiada

Seu Nelson também foi reconhecido por seu trabalho. Em uma competição promovida pela revista Mannequim, sua banca na porta do Edifício Sulacap foi premiada como a mais bem decorada do Norte e Nordeste. Ganhou um cheque de 50 mil cruzeiros e o título que levava com orgulho.

Mais tarde, foi também homenageado pelo Jornal MASSA!, veículo vinculado ao Grupo A TARDE e ao qual dedicou a maior parte de sua vida.

Despedida
O velório de seu Nelson acontece nessa terça-feira,9, a partir das 8h, no Cemitério Bosque da Paz, na Avenida Aliomar Baleeiro, em Nova Brasília. O sepultamento está marcado para as 11h, na capela 04. O idoso deixou quatro filhos biológicos, nove enteados e seis netos.
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