OPINIÃO
Esqueça Odete: o maior assassinato em Vale Tudo foi contra Raquel e Ivan
Artigo de Luiz Almeida aborda um novo problema envolvendo o roteiro do remake da Globo

Por Luiz Almeida

O remake de Vale Tudo caminha para um dos momentos mais esperados da teledramaturgia: a morte de Odete Roitman (Débora Bloch), prevista para acontecer no início de outubro. Um clássico da TV brasileira que, inevitavelmente, atrairá todos os holofotes e debates, até o capítulo final da novela, no fim do mesmo mês. Mas, ironicamente, o grande crime já aconteceu (e não foi contra a vilã). Foi contra os protagonistas, Raquel (Taís Araújo) e Ivan (Renato Góes).
Desde que o casal reatou, o público esperava uma trajetória de ascensão, embates consistentes com Odete e a consolidação do amor que deveria ser o fio condutor da narrativa. Houve, de fato, alguns conflitos rápidos com a bilionária, mas nada que sustentasse a promessa de colocar os protagonistas no centro da trama.
De lá para cá, desde o fim das polêmicas envolvendo Heleninha (Paolla Oliveira), Raquel e Ivan desapareceram da cena principal, relegados ao papel ingrato de comentaristas das vidas alheias.
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É quase surreal perceber que, em uma novela que se vende como um clássico reimaginado, os protagonistas estejam reduzidos a diálogos sobre relacionamentos de terceiros.
Raquel, que deveria ser símbolo de luta, resiliência e enfrentamento, passou semanas sem um arco relevante. Ivan, por sua vez, se transformou em um observador passivo. A sensação é de que ambos foram assassinados pela caneta do roteiro de Manuela Dias.
Casal sumiu em Vale Tudo
E o que torna essa escolha mais grave é o contraste com a expectativa do público. O remake de Vale Tudo sempre carregou consigo a responsabilidade de revisitar não apenas a trama, mas também o peso simbólico das figuras centrais. Ao reduzir Raquel e Ivan em coadjuvantes de luxo, a novela se trai: em vez de atualizar a força do casal, enfraquece sua própria espinha dorsal.
A pergunta que ecoa, portanto, não é mais apenas “quem matou Odete Roitman?”, mas também “quem matou Raquel e Ivan?”. A resposta, infelizmente, já sabemos: o roteiro que decidiu transformá-los em figurantes dentro da própria história.

Enquanto o público aguarda a emblemática cena do assassinato de Odete, fica a sensação de que o crime mais cruel já foi cometido. Porque, sem protagonistas fortes, nem mesmo a vilã mais marcante da televisão brasileira consegue sustentar sozinha a grandeza de Vale Tudo.
O que pode vir por aí?
A expectativa agora é para o finalmente desenrolar da situação entre Raquel e a sua filha, Maria de Fátima (Bela Campos). Será que elas vão se entender ou ficarão brigadas para sempre?
Isso é algo que o público somente deverá descobrir nos últimos capítulos de Vale Tudo. Até lá, então, sem novas histórias para a mocinha de Taís Araújo.
*Luiz Almeida é jornalista e analista de televisão
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