OPINIÃO
Finalmente: o capítulo que salvou Vale Tudo do naufrágio após 4 meses
Criticado desde a estreia, remake da Globo conseguiu feito importante com cenas impactantes
Por Luiz Almeida

Foram necessários quatro longos meses desde a estreia para que o remake de Vale Tudo, exibido pela Globo às 21h, finalmente entregasse um capítulo que justificasse a sua existência.
Nesta terça-feira, 29, o público acompanhou cenas intensas protagonizadas por Heleninha, vivida por Paolla Oliveira, e, pela primeira vez, a novela saiu do piloto automático e mergulhou, de fato, no drama humano com profundidade, sensibilidade e impacto emocional.
A personagem, que luta contra o alcoolismo, foi colocada no centro da narrativa em um episódio que teve direção inspirada e atuação à altura. Desde que Ivan (Renato Góes) pediu a separação, Heleninha vem afundando cada vez mais.
No capítulo exibido, ela perambulou embriagada pelo Centro do Rio de Janeiro, voltou a beber compulsivamente e acabou sendo levada para o quarto de um homem que tentou abusá-la. A sequência foi dolorosa, densa e, sobretudo, bem conduzida (algo raro no remake até aqui).
Trabalho elogiado em Vale Tudo
É preciso destacar o trabalho de Paolla Oliveira. Muito criticada desde os primeiros capítulos por uma interpretação considerada caricata demais para o papel, a atriz finalmente entregou uma performance arrebatadora.
Em vez de apelar para o exagero, a atriz construiu o colapso de Heleninha de maneira sutil, com gestos, olhares perdidos e um corpo trêmulo que refletia fragilidade e desespero.
Quando a personagem reage à tentativa de abuso e ataca o agressor, não vemos apenas uma vítima em fúria, mas uma mulher devastada que, no fundo, clama por ajuda. Foi forte. Foi verdadeiro. Foi um dos melhores momentos da atriz no folhetim.
A direção, que até então vinha sendo apontada como um dos principais problemas da novela, com cortes duros, trilha sonora de novela das 19h, enquadramentos sem alma e uma condução que deixava as emoções pela metade, mostrou nesta terça um respiro criativo.
A sequência da recaída e da violência sexual foi filmada com tensão crescente, respeitando o drama da personagem sem sensacionalismo gratuito. Pela primeira vez, houve silêncio quando era preciso haver silêncio. Houve caos quando o caos se impunha. Houve cinema.
Fenômeno?
Vale Tudo ainda está longe de ser o fenômeno que foi em sua primeira versão, mas o capítulo desta terça provou que há esperança. Quando roteiristas, direção e elenco se encontram em harmonia, a novela ganha alma.
Leia Também:
Se a produção mantiver esse nível dramático e técnico, ainda há tempo para recuperar o prestígio e entregar algo à altura do clássico que tenta revisitar.
Agora resta torcer para que esse capítulo não seja um ponto fora da curva. Porque, depois de quatro meses de cenas mornas e tramas que pareciam andar em círculos, o público merece mais momentos como o de Heleninha.
São capítulos assim que fazem o público vibrar com as novelas e que justificam o poder da teledramaturgia brasileira.
*Luiz Almeida é jornalista e analista de televisão
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes