CRIME ORGANIZADO
Herdeiros do crime ou influenciadores? Quem são os “narco babies” brasileiros
Inspirado nos “nepo babies” de Hollywood, o termo foi usado para criticar a crescente visibilidade dos herdeiros do tráfico
Por Luan Julião

Um novo termo tem ganhado espaço nas redes sociais, principalmente na plataforma X (antigo Twitter): “Narco babies”. A expressão, que surgiu a partir de uma publicação da vereadora paulistana Amanda Vettorazzo, também coordenadora nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), faz referência direta aos filhos de líderes do tráfico de drogas no Brasil, em especial das duas maiores facções do país: o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
De acordo com a vereadora, essas organizações estariam utilizando seus herdeiros como figuras públicas de influência impulsionadas pela cultura digital, redes sociais e pela música para se conectar com o público jovem. Nas publicações, Amanda os rotula como "Narcobabies", em alusão aos chamados “nepo babies”, conceito que nasceu no universo das celebridades.
QUEM SÃO OS 'NARCOBABIES', OS HERDEIROS DAS MAIORES ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS DO BRASIL
— Amanda Vettorazzo (@Amandavettorazz) June 25, 2025
Uma thread imperdível sobre como a cultura virou a nova estratégia de poder e dominação das facções criminosas no Brasil. pic.twitter.com/MqJ1sUaY7C
De Hollywood para o crime
"Nepo baby" é um termo que se refere a filhos de pessoas famosas ou bem-sucedidas que, por sua vez, alcançam sucesso profissional, muitas vezes devido às conexões e influências familiares. A expressão, abreviação de "nepotism baby", ganhou popularidade na mídia e nas redes sociais, especialmente no contexto do entretenimento, onde filhos de celebridades seguem carreiras semelhantes às de seus pais.
Sasha, filha de Xuxa com o ator Luciano Szafir, é uma das celebridades que falam abertamente sobre o tema e fala sobre os privilégios de ser filha de famosos. No Brasil e no mundo, Sasha não é a única. Ela se junta a um time de peso como João Guilherme, José Felipe, Wanessa Camargo e Sandy e Júnior, só para citar alguns exemplos.
Ainda que não sejam mais crianças, eles um dia foram os "nepo babies". O termo, que já virou trend nas redes sociais e no noticiário internacional, vem da junção das palavras "nepotismo", usada na política em casos de favorecimentos de parentes em cargos públicos; e babies, de bebês.
A provocação da vereadora, ao criar o termo "narco baby", está justamente na transposição desse conceito para o universo do crime: filhos que se beneficiam da fama, respeito ou até capital simbólico herdado da atuação criminosa de seus pais, e que usam isso para se promover — muitas vezes em contextos de glamourização do tráfico e da vida de ostentação.
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Mauro 'Oruam' Davi dos Santos Nepomuceno
Um dos principais personagens associados a esse termo é Oruam, nome artístico de Mauro Davi dos Santos Nepomuceno. Com apenas 23 anos, ele se destacou no cenário do trap nacional nos últimos anos, mas sua trajetória artística é constantemente atravessada pela figura paterna: Oruam é filho de Marcinho VP, um dos líderes históricos do Comando Vermelho, preso desde os anos 1990.
O cantor já protagonizou episódios polêmicos por sua defesa aberta do pai. Em 2023, causou comoção ao se apresentar no festival Lollapalooza vestindo uma camiseta com os dizeres "Liberdade pro meu pai". Marcinho cumpre pena de 44 anos, condenado por crimes como tráfico e homicídio.
Oruam também apareceu em vídeos defendendo MC Poze do Rodo, preso em maio sob acusação de vínculos com o tráfico. “O estado gosta de envergonhar nós. Algemaram o Poze e nem precisa disso. O cara é exemplo para várias pessoas. Todo mundo sabe que isso aí é uma mentira. Ele é cantor. Ele canta em baile de favela, mas não é envolvido com facção nenhuma, não. Isso é a maior covardia. Eles gostam de envergonhar nós", afirmou.
Poze é investigado por supostamente receber apoio financeiro do Comando Vermelho para realizar shows em comunidades dominadas pela facção, fortalecendo assim a presença do grupo no território.
Lucas Camacho
Outro nome que chama atenção no debate é Lucas Camacho, filho de Marcola, o mais conhecido líder do PCC. Aos 16 anos, Lucas ainda está no ensino médio, mas já exibe uma rotina de luxo nas redes sociais: viagens internacionais, carros caros e roupas de grife. Com mais de 200 mil seguidores, também demonstrou interesse em seguir carreira na música, especialmente no trap, e já anunciou conversas com Oruam para uma colaboração.
A possibilidade de reunir em uma única faixa os herdeiros de Marcola e Marcinho VP, dois dos principais chefes do crime organizado no país, gerou forte repercussão, tornando visível o quanto essas conexões familiares ainda mobilizam atenção e poder simbólico.
Lucas também declarou que pretende cursar Economia, tentando equilibrar o estilo de vida midiático com uma formação acadêmica tradicional.
Raul Fernandes ou Raulzeira
Entre os filhos de criminosos famosos que circulam com menos holofotes, mas ainda surfam na lógica do “narco baby”, está Raul Fernandes, conhecido como Raulzeira. Ele é filho de Elias Maluco, o traficante condenado pela tortura e execução do jornalista Tim Lopes. Elias também era próximo de Marcinho VP — ambos considerados “irmãos” dentro da estrutura do Comando Vermelho, o que torna Raul, de certa forma, primo de Oruam.
Elias Maluco, seu pai, foi preso em 2002, condenado a mais de 28 anos pela morte de Tim Lopes, repórter da TV Globo, assassinado enquanto investigava o tráfico e a prostituição infantil na Vila Cruzeiro. O jornalista foi torturado, esquartejado e teve o corpo queimado com pneus. Elias foi encontrado morto em 2022, dentro da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), em um caso registrado como suicídio.
Raul não investiu diretamente na música, mas tem forte presença nas redes, onde soma quase 180 mil seguidores. Seus conteúdos incluem ostentação, estilo de vida em favelas e vínculos afetivos com outros “narco babies”. Embora menos famoso, representa bem a imagem do herdeiro da estrutura criminosa.
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