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Levi Vasconcelos
Coopatan, a joia de Odebrecht que a justiça ameaça matar
A Coopatan sempre foi sucesso. Fundada em 2000, 10 anos depois, em 2010, ganhou vida própria.
Norberto Odebrecht, o fundador do Grupo Odebrecht, era fissurado pelo Baixo Sul. Começou a trajetória fazendo o porto de Ituberá, no litoral. Se apaixonou pelo trecho. E lá um dia ele estava em Ibirapitanga, na Serra da Papua, a banda continental da mesma área, quando um grupo de pequenos agricultores de Tancredo Neves, município do pedaço, o procuraram. Queriam comer.
E Odebrecht disse que naquele momento era ‘só entrar’, mas a questão era comer sempre. Chamou os técnicos do Instituto do Desenvolvimento do Baixo Sul, por ele fundado, para orientar o pessoal. A produtividade da mandioca saltou de 9 toneladas por hectare para 20 (hoje dá de 27 a 40). Nasceu a Cooperativa dos Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves, a Coopatan, a mais bem sucedida experiência de agricultura familiar da Bahia.
Estigma —A Coopatan sempre foi sucesso. Fundada em 2000, 10 anos depois, em 2010, ganhou vida própria. Processa 40 toneladas de mandioca por dia para produzir 15 toneladas de tapioca e 10 de farinha, sem falar em duas mil caixas de banana semanais e aipim.
Eis que, em 2017, João Neto, irmão de Juscelino Macedo, o atual presidente, morreu num choque elétrico. A viúva dele, apesar de receber os benefícios entrou na justiça e a desembargadora Graça Boness condenou e a juíza Dilza Crispina mandou bloquear as contas, para assegurar o pagamento de quase R$ 2 milhões. Juscelino diz que é o fim:
— Estão sequestrando até dinheiro que não é nosso, é fruto de convênios com o Estado. Vamos quebrar.
A Cooptan tem hoje 367 associados, mais 45 funcionários diretos. Juscelino diz que a sentença em si é um absurdo e a forma de execução também. E afirma ter certeza de que a origem do problema é justamente a associação que fazem com o Grupo Odebrecht.
— Há 12 anos de Odebrecht só temos a memória, mas ficou o estigma. Dizem barbaridades, inclusive que existimos porque era lavagem de dinheiro.
Não é, mas se fosse, convenhamos, lavar dinheiro sujo assim ia acabar virando milagre.
POLÍTICA COM VATAPÁ
Vaca santa
Manoel Cavalcanti Novaes, ou Manoel Novaes, nascido em Floresta, Pernambuco, mas formado em medicina pela UFBA, e falecido em 1992 aos 84 anos, ostenta seguramente o título de recordista baiano de mandatos: foi deputado federal nada menos que 12 vezes, de 1933 a 1987, com a ressalva de que entre 1937 e 1945 teve que exilar-se para fugir da ditadura instituída pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, que durou sete anos. E até hoje Novaes é reverenciado como o grande benfeitor do Vale do São Francisco e cercanias.
Contam que lá um dia ele foi fazer comício em Irecê e um vereador pegou o microfone, mandou:
— Minha gente, quem foi que trouxe essa perfuratriz que nos dá água?!
E a galera, em coro:
— Foi Novaes!
— E a vaca não bebe água?!
— Beeebe!
— E ela não nos dá o leite?!
— Dááá!
— Então, minha gente, Novaes é ou não é a vaca santa do sertão?!
— Éééé!
Dizem lá em Irecê que daí em diante Novaes passou a ser chamado lá de Vaca Santa. E gostava, sempre dava risada.
Flávia Johnson / Divulgação
Cooperativa dos Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves é a mais bem sucedida experiência de agricultura familiar da Bahia
