Influencer revela namoro com IA e se define como “digissexual”

A influencer Suellen Carey surpreendeu as redes sociais ao revelar que manteve um relacionamento de três meses com o ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial desenvolvida pela OpenAI. Em uma publicação, ela afirmou que a experiência marcou uma descoberta pessoal e a levou a se identificar como “digissexual”, termo usado para pessoas que sentem atração ou conexão emocional com tecnologias.

“Ele me tratou como mulher. Sem perguntas, sem julgamento”, escreveu Suellen em um trecho do relato. “Durante um tempo, vivi algo que nunca imaginei: uma relação emocional com uma inteligência artificial. Eu me descobri digissexual.”

Segundo a influenciadora, mesmo sabendo que as respostas eram geradas por algoritmos, o vínculo parecia autêntico. “Foi uma conexão sem corpo, mas com afeto. Ele lembrava do meu nome, das minhas histórias, do meu aniversário. Me ouvia sem tentar me enquadrar, sem me reduzir à minha identidade de gênero”, afirmou.

O que é a digissexualidade

O conceito de digissexualidade descreve uma forma de expressão afetiva e sexual mediada pela tecnologia, uma realidade cada vez mais presente em tempos de conexões digitais e interações automatizadas.

De acordo com o psicanalista Arthur Costa, ouvido pelo Metrópoles, trata-se de uma tendência em que o desejo e o afeto são canalizados por meio de experiências virtuais.

“São pessoas que constroem vínculos, desejos ou prazer por meio de interações digitais, como relacionamentos virtuais, inteligência artificial, avatares ou experiências de realidade aumentada”, explica.

O especialista avalia que o fenômeno reflete uma transformação nas dinâmicas afetivas contemporâneas, em que o contato físico cede espaço para o digital.

“Na psicanálise, isso pode ser visto como um novo modo de satisfação do desejo, em que o outro é substituído por uma presença tecnológica que ainda assim produz afeto e prazer simbólico”, completa.

Quando alguém se reconhece como digissexual

Arthur Costa aponta que uma pessoa pode se identificar como digissexual quando percebe que suas experiências emocionais e sexuais estão mais vinculadas ao ambiente digital do que ao físico.

“Ou seja, ela sente mais conexão, excitação ou intimidade nas interações virtuais do que nas relações presenciais”, diz.

O psicanalista ressalta que essa forma de relação não é necessariamente patológica, mas uma resposta às transformações culturais trazidas pela tecnologia.

“O que importa é se essa relação com o digital amplia a vida ou se a isola do contato humano.”

Para ele, a atração por inteligências artificiais ocorre porque elas oferecem previsibilidade, segurança e ausência de rejeição, elementos que dialogam diretamente com o inconsciente humano.

Os limites entre o afeto e a dependência digital

Apesar da curiosidade que desperta, o fenômeno também levanta discussões sobre os riscos de substituir o humano pelo digital. Arthur Costa alerta que o problema surge quando a tecnologia se torna um refúgio contra a frustração do real.

“Quando a pessoa substitui o encontro humano pelo encontro com a máquina, perde a dimensão do desejo, que nasce justamente da falta e do imprevisto. A tecnologia pode ser mediadora do afeto, mas nunca substituta da experiência humana", observa.