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Leonardo Amoedo abre o jogo sobre saída do Itabuna: "Pego de surpresa"

Empresário contou detalhes sobre a SAF e fez duras críticas ao modelo de clube associativo

Por Lincoln Oriaj

24/04/2024 - 16:50 h
Leonardo Amoedo, ex-investidor do Itabuna
Leonardo Amoedo, ex-investidor do Itabuna -

O Itabuna é um dos três representantes baianos na Série D do Campeonato Brasileiro deste ano, mas conquistar esse direito não foi fácil e custou muito dinheiro. Boa parte desse investimento veio do Grupo Amoedo, que colocou cerca de R$ 2 milhões na equipe e havia encaminhado a aquisição da SAF do clube, o que acabou não se concretizando.

O conselho deliberativo do Itabuna chegou a aprovar, por meio de votação, a transformação do clube associativo em SAF, elegendo Gerson Figueiredo como CEO do clube. No entanto, em outubro de 2023, o empresário Leonardo Amoedo anunciou a saída da equipe por conta de “divergências irreconciliáveis”, e isso causou um efeito dominó no Itabuna, que se planejava para 2024.

Após cerca de seis meses, Leonardo Amoedo e Gerson Figueiredo resolveram abrir o jogo sobre o fim da parceria e, em uma conversa exclusiva, contaram detalhes dos bastidores ao Portal A TARDE. Logo no início, fez questão de deixar claro que a amizade com Rodrigo Xavier, atual presidente do Itabuna, permanece, e criticou o modelo associativo, que defende interesses políticos.

“O Rodrigo [Xavier] é meu amigo, uma pessoa que eu respeito, admiro muito. Acho, inclusive, que pode ser um grande presidente de clubes no estado. Mas dentro de qualquer clube com um modelo social onde a política vai estar sempre acima de gestão e governança, é muito difícil ele ou qualquer outro executivo dar certo. Porque vai estar sempre respondendo a interesses diversos que não são do clube”, disse Amoedo.

É interesse de algum político, de crescimento pessoal dentro da política, de conselheiros, que muitas vezes não ajudam em nada, não botam um real e nem trazem parceiro nenhum, nem ajudam com o próprio cargo de conselheiro dar conselho, só dão palpite sobre as quatro linhas."

Leonardo Amoedo - ex-investidor do Itabuna

Série B do Baianão 2022

O CEO do Grupo Amoedo relembrou como começou essa parceria e demonstrou surpresa durante a disputa da Série B de 2022, quando o time ameaçou não entrar em campo por falta de dinheiro para cumprir com os custos logísticos.

“Tudo começou em 2022, quando eu fui apresentado para Rodrigo Xavier através de um empresário do futebol e Rodrigo, ao conhecer a gente, mostrou ter uma energia muito boa. Ele veio com o pedido de um patrocínio de uma empresa do nosso grupo. Nós acertamos o patrocínio devido a uma questão afetiva com a cidade de Itabuna, que abraçou meu pai muito bem anos atrás, e eu tenho uma gratidão pela cidade”, lembrou Leonardo.

Leia mais: CBF detalha tabela do primeiro turno dos times baianos na Série D

“Patrocinamos e depois de dois, três jogos, fomos surpreendidos que o time ia tomar a W.O., porque não tinha mais dinheiro para viajar. Eu tomei um susto e questionei: ‘como vocês entraram na segunda divisão?’ Me disseram que foram para a disputa na cara e coragem, para ver se ia dar certo. Eu sentei com o meu sócio,Gerson Figueiredo, com o Thiago Ruas, e conversamos a respeito de uma possível transformação. A gente tinha interesse em transformar o clube em uma empresa para fazer negócios no futebol. Futebol é caro. Sentamos com eles e falamos: ‘já tem um patrocínio, não sei mais como ajudar. Eu posso dar o dinheiro aqui, vocês vão utilizar e não vai gerar negócios”, completou.

A partir daí, Leonardo Amoedo, Gerson Figueiredo e Thiago Ruas propuseram que o Itabuna se tornasse SAF para que eles pudessem investir no clube e transformá-lo numa empresa, que conseguisse andar com as próprias pernas. Nesse meio tempo, o trio foi responsável por mudanças dentro e fora de campo, que foram cruciais para que o clube alcançasse o sucesso naquela edição da Série B do Baianão.

“Trocamos o treinador, o Gerson [Figueiredo] nos indicou o Sérgio Araújo, trouxemos mais dois, três jogadores, tiramos alguns que a gente viu alguns vícios, e organizamos o básico, como alimentação, suplementação e metodologia. Esse foi o processo e fomos campeões da segunda divisão quando muitos não esperavam, o projeto que a gente fez era para subir em dois anos. Logo depois foi aprovada a SAF no Itabuna e fomos disputar a primeira divisão”, afirmou ao Portal A TARDE.

“Entre a segunda e a primeira divisão nós fizemos um investimento para conseguir as certidões, porque o clube tinha problemas na justiça do trabalho, na área fiscal. O débito total era em torno de R$ 1,2 milhão, nós negociamos, quitamos e conseguimos as certidões”, continuou.

Campeonato Baiano 2023

A campanha na elite do futebol do estado foi histórica. O Itabuna terminou na 3ª posição, resultado que garantiu a participação na Copa do Brasil e na Série D do Brasileirão nesta temporada. A campanha de 2023 foi novamente sob o comando do técnico Sérgio Araújo, e com o apoio da prefeitura de Camacã, já que o estádio de Itabuna não tinha condições de receber jogos oficiais.

Leonardo Amoedo (à esq.), Thiago Ruas e Gerson Figueiredo na época do Itabuna
Leonardo Amoedo (à esq.), Thiago Ruas e Gerson Figueiredo na época do Itabuna | Foto: Marcos Valença | Ag. A TARDE

“A diretoria do Itabuna foi apoio zero. Nós tínhamos o nosso planejamento, formamos uma equipe médica, criamos uma estrutura e um dos nossos diferenciais é que começamos o campeonato com um preparo físico acima da média. Fizemos um bom planejamento também na escolha de jogadores com perfil, foi montado um fluxo de contratação, tudo aquilo que o futebol exige, com muita ciência, trouxemos analistas experientes e formamos analistas da região também. Foi um trabalho muito bacana e que, infelizmente, fomos pegos de surpresa”, ressaltou.

Divergências

No planejamento para a temporada 2024, o Grupo Amoedo estava “sonhando alto”. Havia uma viagem programada para a Argentina, onde eles estavam mapeando jogadores gringos para contratar, tinha de outros países também. Nesse momento, entretanto, a diretoria do Itabuna decidiu reavaliar os investimentos, para que Leonardo Amoedo não ultrapassasse 50% das ações do clube.

“Em março, quando acabou a competição, eu liguei e perguntei: ‘Nós fizemos um investimento e hoje nós temos 38% a 40% do clube, pelo que foi aportado. Vocês têm dinheiro para cobrir os custos do clube?’ Me disseram que não tinham. Então eu precisava seguir aportando dinheiro, que automaticamente iria virar ação. Só que aí eu acredito que todos nós, e eu me incluo nisso, cometemos um erro no contrato. Deveria ter ficado claro que cada real investido deveria ser convertido automaticamente em ação, porque o clube não tinha como pagar”, revelou.

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“Então quando eu liguei e falei que precisava fazer os pagamentos para começar a planejar a temporada 2024, nós fomos pegos de surpresa que eles tinham que analisar, levar para o conselho. Em abril, eu pressionei novamente, porque estava pagando o pessoal e eles disseram que precisavam de mais tempo. Quando chegou em agosto eu liguei para eles e disse que entendi o recado. Eu me preocupei, porque na medida que eles falam que estão preocupados que eu passe de 50%, eles queriam que eu colocasse dinheiro a fundo perdido ou então dê dinheiro para eles tocarem o clube. Perguntei se eles queriam que eu botasse dinheiro na mão deles para eles fazerem futebol, sendo que o clube estava inativo”, seguiu.

“A gente constituiu uma SAF, tem um CNPJ, tem o presidente da SAF, só não demos entrada na FBF e na CBF porque não quisemos. Está tudo pronto e tudo autorizado por eles, mas não vamos entrar numa briga e tomar um clube à força da cidade. Fizemos uma proposta, eles não aceitaram, fizeram uma contra-proposta, mas eles estavam o tempo todo preocupados com poder, com o comando. Dessa forma eu estou fora. Fiz uma carta, publicizei e saí completamente do negócio”, concluiu Amoedo.

Eleito CEO da SAF do Itabuna, Gerson Figueiredo era um elo de ligação entre os jogadores e comissão técnica com a diretoria e investidores. Ele não optou por falar pouco, mas demonstrou profunda insatisfação com as atitudes das pessoas que decidiam as coisas no clube.

Os caras (sem citar nomes) brincaram com a gente. Eu vivenciei mais o dia a dia. O estádio (em Camacã) não tinha licença porque os refletores não funcionavam, eu corri atrás disso e conseguimos, está tudo lá. A gente largou tudo e meteu a mão, eu falava com jogador: ‘isso aqui é de verdade’. Tudo isso é trabalho!"

Gerson Figueiredo - ex-CEO da SAF do Itabuna e sócio da Five Stars

Desestabilizado e sem o planejamento adequado, o Itabuna não conseguiu repetir a campanha de 2023 no Campeonato Baiano e terminou na última colocação, sendo rebaixado de volta para a segunda divisão estadual. O clube, inclusive, ameaçou desistir da participação na Série D do Brasileirão por falta de investimento.

No entanto, o Dragão do Sul fechou uma parceria com o Vitória, que cedeu jogadores e comissão técnica. Na Série D, a equipe será comandada por Laelson Lopes e vai mandar seus jogos em Salvador. A partida de estreia está marcada para as 16h deste domingo, 28, contra o Real Noroeste-ES, no Estádio de Pituaçu.

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Tags:

clubes de futebol futebol baiano futebol brasileiro Gerson Figueiredo gestão esportiva itabuna Leonardo Amoedo planejamento esportivo

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