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Editorial - O médico e a dúvida

Publicado sábado, 21 de agosto de 2021 às 06:00 h | Autor: Da Redação
O suposto ilusionismo de coincidir ser e não ser, em impossível associação, deixa perplexos os infectologistas | Foto: Valter Campanato | Agência Brasil
O suposto ilusionismo de coincidir ser e não ser, em impossível associação, deixa perplexos os infectologistas | Foto: Valter Campanato | Agência Brasil -

Os atributos do provisório, pela constante verificação, e do refutável, devido à necessária divergência, são condições para o conhecimento, mas não se pode aceitar como científica a adesão em círculo a posições antagônicas por parte do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Hesita o servidor de alto escalão sobre a utilização das máscaras, ora apoiando, ao falar para imprensa de alcance massivo, ora condenando, quando concede entrevista a obscuros apoiadores negacionistas.

Ilude-se a autoridade, ao descuidar do fato de as pessoas terem acesso a conteúdos em geral, estranhando os atentos a rápida e destemida substituição de pensamentos, a depender do canal no qual investe o médico paraibano.

Ao falar no Senado, na comissão criada para investigar a gestão da pandemia da Covid-19, foi taxativo ao defender a barreira não imunológica, na condição de dever moral, ou máxima pela qual todos deveriam seguir como obrigação, por favorecer ao bem comum.

O mesmo depoente já teria mudado a perspectiva, subitamente, ao abastecer com desinformação um site supostamente noticioso de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, um dos diversos instrumentos digitais investigados por difundir conteúdos falsos.

Em questão de horas no intervalo entre discursos ambíguos, o doutor oscila entre o consenso planetário sobre evitar aglomerações e o clamor por desobrigar as pessoas, permitindo a cada cidadão seguir a própria consciência, considerando a coletividade em segunda ordem.

O suposto ilusionismo de coincidir ser e não ser, em impossível associação, deixa perplexos os infectologistas, pois a palavra trôpega da principal liderança do setor pode produzir efeitos na população pouco instruída, inflando estatísticas de infectados e óbitos.

O contexto de avanço da vacinação, ressalvada a incompletude da cobertura, não livra o Brasil da circulação de variantes, tendo este cenário o acréscimo do desserviço de quem faz apologia à dúvida como certeza de existir entre dois polos, o da ignorância e o da prudência.

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