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Editorial - Produção de tragédias

Publicado sábado, 19 de fevereiro de 2022 às 00:30 h | Autor: Da Redação
Volta a ocorrer em Petrópolis episódio de tipo similar aos já verificados tantas vezes e em locais os mais diversos do Brasil
Volta a ocorrer em Petrópolis episódio de tipo similar aos já verificados tantas vezes e em locais os mais diversos do Brasil -

Culpar as “fortes chuvas”, calculando quantos milímetros excederam os temporais, em relação à média esperada, tem sido falácia comum aos gestores, quando se trata de transferir para uma impossível deliberação da natureza o poder de produzir tragédias, eximindo-se os responsáveis por políticas públicas preventivas capazes de proteger a população.

Volta a ocorrer em Petrópolis episódio de tipo similar aos já verificados tantas vezes e em locais os mais diversos do Brasil, em contextos nos quais mesmo o cidadão comum e de baixa escolaridade pode antever a ocorrência dos deslizamentos de terra, efeitos de enchentes ou desabamentos de moradias.

O péssimo exemplo de gestão da cidade idealizada por D. Pedro II, na instável região serrana do Rio, obedeceu a uma hierarquia caracterizada pela preferência aos ornamentos e à construção de uma imagem postiça conforme pode ser verificado em uma visita ao Portal da Transparência.

O topo dos recursos arrecadados com a cobrança de tributos foi destinado a publicidade, com R$ 4,4 milhões em 2021, alcançando R$ 5,5 milhões quando somados a valores pagos às empresas pela iluminação de final de ano, chamada de “cênica, ornamental e decorativa para o Natal Imperial”.

Para a representação mais fidedigna do despautério, somente o custo destas luzes do Papai Noel ultrapassa os R$ 940 mil previstos para aplicação em obras nas áreas de risco, no bairro Primeiro Distrito, tendo calculado os engenheiros do serviço público 15 mil casas ameaçadas, além de outras centenas situadas no entorno.

Não teriam sido mais de 100 o número de mortos se a previsão de ações colocasse em primeiro lugar a contenção de encostas em vez de oba-obas, hoje substituídos pelo choro de dor e sofrimento de quem sustenta o país com seu trabalho, mas em grande parte das vezes, tem menor importância, como se a sociedade deslizasse junto com os morros na falsa ideia de terem alguns o privilégio à vida, enquanto a maioria depende da sorte e do bom tempo para existir mais um dia.

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