"MORTE LENTA E DOLOROSA"
Aisha Vitória: crime macabro completa um ano sem data para julgamento
Familiares da criança cobram celeridade no júri popular; menina foi estuprada e estrangulada pelo vizinho
Por Leilane Teixeira

Cinquenta e duas semanas de saudade, 365 dias de angústia e 8.776 horas de um crime que deixou marcas irreversíveis. Assim foi — e tem sido — o primeiro ano de Lívia Souza sem a presença da filha Aisha Vitória, abusada sexualmente e estrangulada pelo vizinho em Pernambués, bairro periférico de Salvador.
“Um ano depois, e eu nem sei como responder ainda como me sinto. Dói demais. Um ano sem minha filha... Foi um ano de muita tristeza. As coisas dela ainda estão aqui em casa. A irmã caçula usa tudo. A ausência dela é sentida diariamente. Todo dia, quando acordo e abro a porta, parece que estou revivendo um pesadelo. Não consigo acreditar que já passou tanto tempo. É uma busca por uma resposta que não tem explicação, não tem palavras”, desabafou Lívia com a voz embargada e emocionada.
Moradora do bairro, a criança de 8 anos saiu para ir à casa da avó no dia 22 de julho e nunca mais voltou. Na manhã do dia seguinte, 23, Aisha Vitória foi encontrada morta a poucos metros de casa, em cima de sacos de material de construção, com os pés e mãos amarrados. Horas depois, o vizinho Joseilson Souza da Silva, na época com 43 anos, foi preso suspeito de cometer o crime.

“Até hoje, a irmã mais nova dela, que é autista, pergunta pela irmã. Ela só tem seis anos e estavam juntas no dia em que tudo aconteceu. Estavam indo para a casa da avó, mas aí começou a chover e Aisha voltou para ir ao banheiro. Foi quando ele a sequestrou. A irmã ainda chora muito. Questiona por que não foi com ela. Diz: ‘Mãe, era pra ter sido comigo’. Eu não tenho mais segurança nem para deixar minha filha brincar na porta de casa. Hoje, ela só sai acompanhada dos irmãos. Até pra ir ao banheiro, ela pede que alguém vá com ela”, contou ao Portal A TARDE.
Sobre o sentimento diante do homem acusado de matar sua filha, a resposta vem com franqueza e dor.
Se eu pudesse escolher a punição, seria a morte. Queria vê-lo em uma cadeira elétrica, sentindo uma dor lenta e dolorosa, da mesma forma que minha filha sentiu. Foi uma monstruosidade o que foi feito com ela
Mobilização
Amigos e familiares da criança farão um protesto nesta terça-feira, 22, às 7h. A concentração terá início na Avenida São Paulo, em Pernambués, seguindo em direção à Avenida Paralela. Segundo a mãe de Aisha, o protesto busca mobilizar a Justiça para que haja celeridade na definição da data do julgamento, para que ele não seja solto e aguarde o julgamento em liberdade.
“A gente está organizando essa manifestação para pedir que o julgamento aconteça logo. Porque a lei no Brasil estabelece um tempo limite para a pessoa ficar presa antes do julgamento. Depois disso, a Justiça é obrigada a soltar para ele aguardar em liberdade. O que queremos é que o juiz agilize esse julgamento para evitar que isso ocorra”, explicou.

Além da demora no processo, há o temor de que o acusado — que também possui histórico de abusos em outras cidades da Bahia — seja transferido para um presídio em outro município, após solicitação da defesa, o que poderia facilitar sua soltura e dificultar o monitoramento do caso. “Ele pode sair e a gente nem ter notícia, perder de vista o paradeiro dele em outra cidade. Ele solto coloca também outras crianças em risco”.
Julgamento
Joseilson foi capturado horas depois de abandonar o corpo de Aisha próximo à casa dela, em um saco de areia. Ele foi preso, passou por audiência de custódia e teve o flagrante convertido em prisão preventiva. Desde então, ele segue na Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, aguardando o júri popular.
O suspeito está em cela especial, após a Justiça aceitar o pedido feito pelo advogado de defesa dele, Bruno Rodrigues Pereira. O Portal A TARDE contactou Bruno, que reiterou concordar com a prisão do suspeito, desde que a Justiça mantenha a integridade dele protegida. Caso seja condenado, a expectativa da defesa da família é que a sentença seja de 40 anos de prisão.

“A única coisa que eu espero é que a Justiça seja feita, porque nada mais vai trazer a minha filha de volta. Nada vai substituir a dor que eu estou sentindo com a perda dela, ainda mais do jeito que foi. Minha filha só tinha 8 anos, não merecia isso. Ninguém merece isso, ainda mais uma criança”, disse Lívia.
A mãe de Aisha vive hoje sob acompanhamento psiquiátrico e afirma que não tem estrutura emocional para estar frente a frente com o acusado no júri popular.
Na primeira audiência, por videochamada, eu não consegui nem olhar pra câmera. Minha psiquiatra acha que não tenho condição nenhuma de enfrentá-lo. E ela tem razão. Mas, daqui até lá, vou criar forças
Relembre o crime
Aisha foi encontrada morta, em cima de um saco plástico, na manhã do dia 23 de julho na Travessa São Jorge, no bairro de Pernambués. A menina estava desaparecida desde as 17h de segunda-feira, 22.
O corpo dela foi encontrado por volta das 4h, a cerca de 30 metros da casa onde ela morava com os pais e quatro irmãos. Aisha Vitória tinha marcas roxas nas pernas, costas, estava deitada de barriga para baixo e com a mão direita para trás.
Horas depois, o vizinho foi preso suspeito de cometer o crime. A polícia disse que ele usava boneca para atrair crianças.
Cronologia segundo a confissão do suspeito
- 16h30 de segunda-feira, 22 - Joseilson aproveitou que Aisha brincava sozinha para chamá-la até a casa dele. Como a menina não aceitou, ele "tapou a boca" dela e a puxou à força.
- Dentro do imóvel, usou uma boneca furtada de outra criança para acalmar a menina e evitar que ela gritasse por socorro. Depois disso, ele abusou sexualmente da criança e a estrangulou "para que ela perdesse a consciência".
- 18h - Ele disse que, nesse horário, a criança ainda estava viva, porém desacordada, e notou familiares e vizinhos procurando por ela.
- 19h - Decidiu matar a menina por entender que, se a libertasse, "seria descoberto".
- Joseilson a estrangulou até a morte e, ao longo da noite, limpou vestígios do crime e planejou como abandonar o corpo.
- 3h30 de terça-feira, 23 - Ao perceber que as buscas tinham sido interrompidas, saiu e deixou o corpo em um beco, em cima de sacos de materiais de construção, próximo à rua onde mora.
- De volta à residência, percebeu que se esqueceu de pegar os chinelos da garota e os atirou no telhado da vizinha para ocultar provas. Fez o mesmo com a boneca, escondendo-a atrás da geladeira.
- Em seguida, tomou banho e dormiu no mesmo colchão em que a garota foi morta.
- Pela manhã, acordou com gritos dos pais de Aisha, no momento em que encontraram o corpo dela.
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