GOLPE DO INVESTIMENTO
Homem é acusado de dar golpe de quase R$ 4 milhões na RMS
Vítimas dizem que falso investidor enganou entre 180 a 200 pessoas com promessa de lucros

Por Andrêzza Moura

O que começou com promessas de estabilidade financeira e altos lucros mensais transformou-se num verdadeiro pesadelo para dezenas de pessoas, muitas dessas, moradoras de Simões Filho, cidade da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Liderado por Edson dos Santos Campos Júnior, o esquema de investimentos promovido pela empresa Workway Investimentos atraiu pessoas de diferentes perfis sociais com a promessa de lucros fixos de 20% ao mês.
Hoje, estima-se que entre 180 e 200 pessoas tenham sido prejudicadas, com perdas que podem ultrapassar os R$ 4 milhões. O Portal A TARDE ouviu vítimas e o delegado responsável pelo caso. Os relatos são devastadores. A empresa é investigada por fraude, estelionato e uso de documentos falsos, e o suposto mentor do golpe não dar notícias desde meados desse ano.

A promessa que virou ruína
“Usei minha rescisão de 14 anos de trabalho, o dinheiro do meu esposo e da minha mãe, para investir em algo que parecia seguro. Tínhamos contrato, havia pagamentos mensais, e ele dizia que operava com apenas 1% do capital na Bolsa. Era mentira”, desabafou a autônoma Reinilda Jesus, moradora de Simões Filho, ao revelar que investiu R$ 150 mil.
Ela conta que, por alguns meses, os rendimentos foram pagos, mas em julho de 2024 os pagamentos cessaram. “Vieram desculpas sobre contas globais, e-mails forjados, uma apólice de seguro inexistente. Em novembro, ele admitiu que perdeu todo o dinheiro operando de forma impulsiva, o que contrariava sua própria política de risco”, afirmou ela.

Segundo Reinilda, Edson ainda pediu "um voto de confiança", prometeu ressarcimento total, mas sumiu em março de 2025, junto com o pai. "Foi um golpe que destruiu sonhos e comprometeu o futuro da minha família", resumiu.
“Fui usado como laranja”: o sócio que virou vítima
Outro personagem-chave dessa história é Celso Saldanha, que chegou a ser sócio da empresa por acreditar que tudo era legalizado. “Ele me chamou porque eu tinha muitos contatos com empresários, comerciantes e advogados. Eu acreditava, mas, depois descobri que tudo era uma mentira. Ele mostrava e-mails falsos, documento do seguro falso. Ele dizia que o dinheiro ia para a conta da Workway, na Bolsa de Valores, mas, na verdade, o dinheiro estava indo para a conta dele pessoal", contou.
Celso, que atualmente está desempregado, afirma ter sido convencido por Edson a tomar empréstimos bancários e com agiotas para repassar dinheiro a investidores lesados. “Estou devendo mais de R$ 80 mil. Meu nome está sujo, não consigo emprego. Fiquei preso ao CNPJ da empresa, mas consegui a dissolução com a ajuda do pai dele.”
Ele diz ter entregue provas à polícia, incluindo extratos bancários e conversas com Edson. “O próprio delegado me disse que eu fui usado como laranja. Eu caí no golpe junto com minha família e amigos”, lamentou.
Empresário perdeu quase R$ 1,5 milhão
O empresário Eufrásio Florêncio de Andrade, de 62 anos, também caiu na armadilha. Ele começou investindo R$ 10 mil, mas foi aumentando os aportes conforme recebia os lucros prometidos. “Chegou uma hora que ele atrasou. Me disse que a conta estava bloqueada e que abriria outra para me reembolsar em 60 dias. Acreditei e coloquei mais R$ 200 mil. No final, perdi R$ 1.480.000,00", afirma o senhor.
Eufrásio também cita o uso de documentação forjada, e-mails falsos e uma suposta apólice de seguro do Lloyds of London - mercado britânico de seguro e resseguro -, que nunca existiu.
Advogada também caiu no golpe
A advogada Taiza Santos conheceu o esquema por meio de um familiar. “Eu investi R$ 41 mil. Consegui recuperar parte, mas fiquei no prejuízo de R$ 14 mil. Meu familiar colocou mais de R$ 300 mil e perdeu mais de R$ 120 mil”, lembra.
Segundo ela, Edson montou um cenário cuidadosamente forjado para transmitir uma falsa sensação de segurança aos investidores. "Ele inventava histórias, dizia que o dinheiro estava travado em Londres, criou até e-mails falsos de casas de câmbio e seguradoras. Foi tudo muito bem montado."

Taiza revela ainda que foi uma das primeiras a denunciar o caso à polícia e questiona a lentidão nas investigações. “É revoltante ver um golpe tão grande e nada andar. Já vai fazer um ano”, desabafou.
Delegado confirma investigações
Procurado pelo Portal A TARDE, o delegado Jader Oliveira, titular da 22ª Delegacia de Simões Filho, confirmou que há três boletins de ocorrência registrados com o nome de Edson Campos Júnior, datados de 6 de novembro de 2024, 9 de novembro de 2024 e 14 de julho de 2025.
"Um dos boletins gerou inquérito policial para apurar estelionato. O investigado mencionado por você, não foi interrogado ainda, não. O inquérito está em fase final para ser concluído e emitido para Justiça.Isso é para apurar a esfera penal", explicou o delegado, revelando que Celso Saldanha foi ouvido na unidade policial ainda quando figurava como sócio de Edson.
Sobre possível ressarcimento, Oliveira fez fez um alerta e disse: “É bom sempre deixar claro, que para restituição de valores e coisas do tipo, é no âmbito judicial, cível, se for o caso. O que a gente pode ver aqui na investigação é, uma vez, constatado que realmente trata-se de estelionato ou algum outro crime, a gente pode solicitar, representar pelo bloqueio de valores, mas também por via judicial".
Silêncio e fuga
A reportagem tentou contato com Edson dos Santos Campos Júnior, mas não obteve retorno. No entanto, teve acesso a um vídeo enviado pelo próprio Edson aos clientes, onde ele reconhece que houve problemas e afirma estar aguardando "parcelas de um seguro internacional" para efetuar os pagamentos.
“Eu tenho mais de 100 pessoas para dar conta, valores elevados. A entrada na Justiça me atrapalha, porque trava minhas contas e eu não consigo fazer pagamentos”, disse ele no vídeo, culpando um suposto atraso em reembolsos de um seguro acionado em agosto de 2024.
Na gravação, ele promete ainda ressarcir todos os prejudicados, mas nada foi efetivamente até essa terça-feira, 7 de outubro de 2025. Segundo as vítimas, o pai de Edson também desapareceu após fazer falsas promessas aos grupo de investidores.
Workway E&C, nome fantasia, está ativa sob o CNPJ nº 50.645.429/0001-04. A empresa foi fundada em 11 de maio de 2023, com capital social inicial de R$ 10 mil e tem como endereço a Avenida Rui Barbosa, nº 239, Sala 103, Centro, Simões Filho.
Farsa montada
- Entre os elementos usados por Edson para ludibriar as vítimas estavam:
- Contratos com firma reconhecida em cartório
- E-mails falsos com remetentes forjados de bancos internacionais
- Apólices de seguro falsas em nome do Lloyds of London
- Mentorias fictícias que escondiam operações não autorizadas
- Conta bancária pessoal usada para receber os valores dos investidores
"Ele dizia que operava com apenas 1% do capital e que todo investimento era seguro. Mostrava documentos, gráficos, mas tudo era montagem", detalha Celso Saldanha.
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O próximo passo das vítimas
Diversas vítimas abriram processos na esfera cível e aguardam desdobramentos penais. Um grupo está sendo organizado para pressionar autoridades e pedir bloqueio de bens e localização do suspeito, que estaria sendo escondido por familiares, segundo algumas suspeitas.
“Queremos justiça. Queremos nosso dinheiro de volta e que ele responda pelos crimes cometidos”, finaliza a autônoma Reinilda Jesus.
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