CRIME ORGANIZADO
Conheça o TCP, facção do Rio que deixou marcas na orla da Salvador
Símbolos da facção foram registrados até em um dos endereços mais valorizados da capital
Por Luan Julião

Por anos, o bairro da Barra foi cartão-postal de Salvador. Lar de três dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade, o Farol da Barra, o Cristo da Barra e o Porto da Barra, a região é banhada por uma orla famosa entre turistas e moradores e marcada pelo alto padrão imobiliário, com metro quadrado valorizado e vizinhança disputada.
Nos últimos dias, porém, pichações chocaram quem circula pelo local. Marcas da facção Terceiro Comando Puro (TCP), do Rio de Janeiro, foram registradas em diferentes pontos da orla, incluindo a balaustrada. A presença do símbolo carioca em um dos endereços mais nobres da capital expõe a influência crescente do grupo na Bahia, em aliança com o Bonde do Maluco (BDM).
Aliança que rompeu domínio histórico
Nos últimos anos, o TCP ampliou suas conexões com o BDM, facção criminosa baiana que disputa com o Comando Vermelho (CV) o controle de pontos de tráfico na capital e no interior.

Um dos episódios mais marcantes dessa reconfiguração ocorreu na comunidade de Vila Verde, próxima a Mussurunga e São Cristóvão. Área historicamente controlada pelo CV, passou a ser dominada pelo BDM, agora aliado ao TCP.
A mudança é significativa: rompe um domínio que remonta aos primórdios do tráfico organizado em Salvador, quando o CV atuava como suporte logístico para a Comissão da Paz (CP), criada por Éberson Souza Santos, o “Pitty”, morto pela polícia após fugir do presídio em 2007.
Marcas da troca de comando
Apurações do Portal A TARDE mostram que a ocupação BDM-TCP em Vila Verde se consolidou nos últimos três meses. Muros, postes, vielas e até caixas de lixo agora exibem as siglas “BDM”, “TCP” e o número “3” no lugar de “Tudo 2” e “CV”, símbolos do grupo rival.
A disputa ultrapassa Salvador. Desde o fim de 2023, moradores de Santo Amaro, no Recôncavo, relatam aumento da violência e o aparecimento de pichações do TCP, que se instalou na cidade por meio da parceria com o BDM para enfrentar o CV.
Conexões interestaduais
No dia 10 de outubro de 2024, uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu oito integrantes do TCP no Complexo de Israel. Entre eles estava o baiano Jeimes Cassiano Lisboa, conhecido como “Jeimes” ou “Lavezzi”. Fontes da Polícia Carioca, ligadas ao Portal A TARDE relataram que ele atuava como elo entre as duas facções, negociando armas e munições para fortalecer o BDM na Bahia.

O Complexo de Israel, que reúne comunidades como Parada de Lucas, Cidade Alta, Pica-Pau, Cinco Bocas e Vigário Geral, é considerado o quartel-general do TCP e base do líder Álvaro Malaquias Santa Rosa, o “Peixão”.
Rebatismo e expansão
Em novembro de 2023, um comunicado atribuído ao BDM anunciou que a facção passaria a adotar o nome Terceiro Comando Puro, em alusão à aliança com os cariocas. O texto, assinado pela “família BDM”, justificava a mudança como resposta à pressão de rivais e ações policiais, destacando que Salvador, sua Região Metropolitana, o interior da Bahia e outros estados ligados ao grupo passariam a ser considerados parte do TCP.
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O manifesto também citava diferentes bases da facção, como o Complexo da Serrinha, Complexo da Maré, Vila Aliança e Complexo da Pedreira, e encerrava com o lema: “Juntos somos mais fortes”.
Quem é o TCP
O Terceiro Comando Puro surgiu em 2002 após uma cisão interna do Terceiro Comando, durante disputas entre lideranças no presídio de segurança máxima de Bangu 1, no Rio de Janeiro. O grupo travou, desde então, uma guerra sangrenta contra o CV.
Além de “Peixão”, que comanda o Complexo de Israel e mantém relações com facções de outros estados, outros líderes se destacam, como Thiago da Silva Folly, o “TH”, que atua na Maré, e Bruno da Silva Loureiro, o “Coronel”, na Zona Oeste.

A facção também é conhecida por utilizar simbologia religiosa, como a Estrela de Davi pintada em Parada de Lucas e por ter líderes evangélicos que usam a fé como ferramenta de influência comunitária.
Os membros do TCP se autoproclamam "soldados de Jesus" e se denominam Tropa de Aarão, em referência ao irmão mais velho de Moisés. Além disso, a frase "Jesus é dono do lugar" se tornou uma assinatura da facção para reforçar o domínio territorial.
Quem chega de trem a Parada de Lucas se depara com a bandeira de Israel logo na plataforma da estação, na placa que saúda: "Seja bem-vindo ao Complexo de Israel." O uso do símbolo reflete não apenas um aspecto religioso, mas também uma estratégia de controle social e territorial.
O que diz a SSP
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou, que o Disque Denúncia (telefone 181) da Secretaria da Segurança Pública iniciou na tarde da última terça-feira, 5, uma intensificação na apuração das informações que começaram a chegar sobre os autores de pichações no bairro da Barra.

As denúncias são enviadas para guarnições da Polícia Militar que ampliaram o patrulhamento e também para equipes da Policia Civil.
Investigadores da PC analisam também câmeras de segurança da região, visando a identificação e captura dos autores do ato de vandalismo.
Informações sobre os responsáveis pelas pichações podem ser enviadas, com total sigilo, através do telefone 181 ou pelo site www.disquedenuncia.ssp.ba.gov.br. O anonimato é garantido por lei.
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