MOBILIDADE
Governo ajusta últimos detalhes para confirmar metrô no Campo Grande
Outras expansões do sistema são pensadas pela gestão estadual, tendo Barra e Cajazeiras no horizonte
Por Lula Bonfim
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) autorizou na sexta-feira, 14, o início das obras para a implantação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Salvador, com um foco especial para atender à população do Subúrbio Ferroviário. Com esse passo dado, o governo da Bahia ajusta agora os últimos detalhes para o próximo grande projeto de mobilidade urbana da capital baiana: a Estação Campo Grande do metrô.
Chamada de "Expansão Sul" ou de "Tramo 4 da Linha 1" do metrô, essa ampliação para o Campo Grande já teve diveros estudos contratados para avaliar sua viabilidade. Apesar disso, recentemente, o governo do estado contratou uma nova consultoria, a pedido da Casa Civil e da Caixa Econômica Federal, como um pré-requisito para a liberação dos recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
"Nós estamos só esperando a confirmação do recurso que está previsto no PAC Seleções. Nós solicitamos algo em torno de R$ 1,5 bilhão. Será também em torno de 36 meses de obra, com cerca de 1 km subterrâneo, com estação no Campo Grande e que terá acesso também dentro da área do Teatro Castro Alves. Ou seja: é um trecho que, apesar de ser apenas 1 km, será um espaço muito positivo para a região", afirmou ao Portal A TARDE a presidente da Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB), Ana Cláudia Nascimento.
Liberada a verba do PAC, a tendência é que o governo do estado realize um termo aditivo no atual contrato de concessão do Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas (SMSL), para que a CCR Metrô Bahia realize tanto as obras quanto a operação do novo trecho de 1 km entre a Lapa e o Campo Grande. Isso porque a gestão estadual avalia que o modal deve ter apenas uma concessionária em sua administração.
O motivo da prioridade dada pelo governo Jerônimo à Expansão Sul é o potencial de aumento de usuários. Um documento interno da gestão estadual obtido pelo Portal A TARDE aponta que a expectativa de incremento de passageiros no SMSL com a implantação da Estação Campo Grande seria de 20 mil pessoas por dia. Ana Cláudia, porém, fez uma estimativa mais conservadora.
"A expectativa é de transportar em torno de 11 mil passageiros por dia só nesse trecho. Mas ele vai ainda trazer uma revitalização ao nosso Centro, à região do Politeama, à Avenida Sete, ao próprio Campo Grande, ao Garcia, ao Canela, áreas de escolas. Ou seja: ele trará uma facilidade ao transporte de quem vai estudar e de quem vai ao lazer. Já pensou ter uma estação no centro do nosso Carnaval? Então é muito mais do que 1 km de obra. É uma transformação para essa região do Centro de Salvador", avaliou a presidente da CTB.
Barra
Mas esta não é, nem de longe, a única ideia de ampliação do sistema. O próprio projeto da Estação Campo Grande prevê um rabicho a ser feito por baixo da Av. Araújo Pinho, no bairro do Canela. Essa pequena extensão, construída para garantir a manobra dos trens do metrô, será feita também pensando no futuro do SMSL, que deve ganhar mais duas novas estações: na Graça e na Barra.
Esse projeto de levar o metrô de Salvador até a Barra só não está sendo tocado junto à Estação Campo Grande por uma questão financeira. O governo estima que a construção dessas novas estações, que seriam todas subterrâneas, teriam um custo de R$ 1,5 bilhão por quilômetro, considerado um custo alto para o empreendimento. Apesar disso, a ideia está longe de estar sepultada.
"É só a gente conseguir dinheiro. Nós estaremos prontos. Serão mais 2 km, mais duas estações. Uma na Graça e a outra na frente do Shopping Barra. São mais R$ 3 bilhões. É mais ou menos R$ 1,5 bilhão por quilômetro. Porque é subterrâneo, é muito mais caro", explicou Ana Cláudia Nascimento ao Portal A TARDE.
Documentos obtidos pelo Portal A TARDE revelam ainda que, em estudos iniciais, o rabicho posterior à Estação Barra, na Avenida Centenário, seria direcionado ao bairro de Ondina, possibilitando, no futuro, uma nova expansão do metrô de Salvador, chegando ao Rio Vermelho.
Essa ampliação do SMSL em direção à orla marítima de Salvador pode também viabilizar um sonho antigo do governo do estado que, ainda durante a gestão de Rui Costa (PT), chegou a estudar a possibilidade de levar o sistema ao bairro da Pituba, plano que foi suspenso após a divulgação do projeto do BRT, por parte da prefeitura da capital.
Cajazeiras
Após 10 anos de funcionamento, o SMSL possui atualmente 38,8 km de extensão, sendo 17,6 km da Linha 1, da Lapa a Águas Claras; e 21,2 km da Linha 2, entre as estações Acesso Norte e Aeroporto. Esses números, porém, seguem em crescimento, devido aos muitos projetos de ampliação do sistema.
A última ampliação realizada foi a implantação do "Tramo 3 da Linha 1", concluída com a inauguração da Estação Águas Claras em dezembro de 2023, que, de acordo com a avaliação da CCR Metrô Bahia, superou as expectativas de circulação e foi responsável pelo aumento notável de usuários no SMSL.
Em abril de 2024, o metrô de Salvador superou seu próprio recorde de circulação de passageiros em um mês, superando a marca de 10,2 milhões de usuários no período. Na sequência, em maio, o sistema bateu o recorde histórico para o mês durante toda a operação do modal na cidade, se aproximando de 10,1 milhões de pessoas.
Esse crescimento da circulação de passageiros após a inauguração da Estação Águas Claras acendeu um sinal de possibilidade no governo da Bahia. A partir disso, a gestão estadual já começa a ventilar a possibilidade de tocar uma nova ampliação da Linha 1 em direção à parte central do bairro de Cajazeiras, que possui 152 mil habitantes, conforme última atualização do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A possibilidade foi revelada com exclusividade ao Portal A TARDE pelo secretário estadual da Casa Civil, Afonso Florence (PT), que ressaltou ainda não haver estudos sobre o assunto, mas deixou claro o interesse do governo do estado em tocar a ideia no futuro.
“Outra sempre cogitada, pela possibilidade de carga [número de passageiros], é Cajazeiras. Saindo de Águas Claras para Cajazeiras. É uma hipótese. Quem passa ali em Águas Claras vê ali o rabicho. O rabicho é o lugar a partir do qual o trem pode fazer aquele famoso desvio de trilho. Seguir dali até Cajazeiras é também uma das possibilidades. Mas essa é uma decisão que depende de estudos”, contou Florence.
Lauro de Freitas
No contrato de concessão que o governo do estado possui com a CCR, já está prevista a implantação do “Tramo 2 da Linha 2”, com a construção da Estação Lauro de Freitas no centro do município laurofreitense, nas proximidades do Parque Shopping.
O começo das obras para essa nova estação, porém, ainda depende de um “gatilho” contratual. A CCR apenas estará obrigada a levantar a nova parada do metrô no centro de Lauro de Freitas quando a Estação Aeroporto do SMSL alcançar a média, em um período de três meses, de 6 mil passageiros por hora entre 17h e 19h. Na última atualização obtida pelo Portal A TARDE junto à CTB em abril, o número estava em 4,5 mil.
Essa expansão para o centro de Lauro de Freitas ampliaria a Linha 2 em mais 3 km, chegando a 24,2 km de extensão. Consequentemente, o SMSL iria a 41,8 km de trajeto, na soma de suas duas linhas.
O governo da Bahia chegou a considerar aportar mais dinheiro na concessão para antecipar a construção da Estação Lauro de Freitas, mas o plano foi suspenso e, neste momento, a gestão estadual aguarda o alcance da meta estabelecida no contrato com a CCR.
Cidade Baixa
No início do projeto do SMSL, ainda nos anos 1990, a previsão era que a Linha 2 se iniciasse no bairro da Calçada, passando pelas regiões de Água de Meninos e Dois Leões, antes de chegar ao Acesso Norte e seguir viagem rumo ao Aeroporto de Salvador.
Com o tempo, o projeto foi mudando e, hoje, a Linha 2 começa no Acesso Norte e termina na Estação Aeroporto, sem o trecho que ligaria o sistema metroviário à região conhecida como Cidade Baixa.
Neste momento, a ideia do governo Jerônimo é realizar a ligação da Cidade Baixa com o metrô apenas através do VLT de Salvador, com obras já contratadas pela gestão estadual. A intersecção entre os sistemas ocorreria em Águas Claras e no Bairro da Paz.
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