BEBIDA
Atrativo do turismo gastronômico, café da Chapada ganha o mundo
Produto é exportado para outros estados e países
Por Claudia Lessa
Os cafés especiais cultivados em fazendas ou sítios da Chapada Diamantina vêm atraindo a atenção dos visitantes e impulsionando a economia local, sendo exportado para outros estados e países, como Noruega, Dinamarca, EUA, Austrália, Japão e Coreia do Sul. A produção de grãos do fruto do cafeeiro na região – em especial nos municípios de Piatã e Mucugê – já virou case de sucesso em festivais e concursos nacionais e internacionais. Em 2023, 11 marcas de cafés cultivadas na Chapada integraram a lista dos 30 melhores cafés do Brasil, conforme pesquisa da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), realizada junto à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos e à Alliance for Coffee Excellence.
A antiga paixão dos brasileiros pelo “cafezinho” segue inabalada. Mas, digamos, que muitos adeptos da bebida estão mais exigentes, optando pelos cafés produzidos na Chapada Diamantina – que vêm conquistando posição de destaque na competição nacional Cup of Excellence, o “Oscar“ dos cafés especiais, promovida pela BSCA. Segundo o diretor-conselheiro da entidade, Sílvio Leite, estima-se que, do total da produção brasileira de café, 20% correspondem a de cafés especiais. “Na Bahia, por conta dos cafés finos produzidos na Chapada, este percentual pode ser um pouco maior”, acredita, destacando que a exportação brasileira de café gera U$ 6 bilhões por ano.
Embora esteja na quarta posição nacional em produção de café, a Bahia vem ganhando destaque internacional pela sua qualidade. A diferenciação dos cafés especiais, de acordo com a BSCA, está nos manejos específicos e no processamento, no caso feito de modo que em cada etapa seja preservada, ao máximo, a qualidade potencial dos grãos. “Os melhores cafés têm grãos perfeitos, têm torra média-escura e são torrados com técnica especial”, pontua Sílvio Leite. Todo esse processo pode ser conhecido através da Rota do Café, em fazendas, como a Riacho da Tapera, em Piatã, que recebem visitantes, apresentam suas plantações de cafés e mostram a arte da torra, que é a etapa mais importante de todo o ciclo para se garantir a qualidade e o sabor do produto.
O município de Piatã origina a maioria das marcas baianas de café especial não só pelo seu clima favorável por ser a cidade com a altitude mais elevada do Nordeste (1.260 metros acima do nível do mar). Mas, sobretudo, pelo profissionalismo do plantio, da colheita e da torra, graças ao aprimoramento de técnicas dos pequenos produtores, que contam com o apoio de órgãos como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O apoio da Sebrae tem sido importante, por exemplo, para o cafeicultor Silvaldo Silva Luz, em Ibicoara. Em 2022, ele comemorou a segunda colocação na competição nacional Melhor Café Torrado para Expresso, com o Café Canjerana. “A ajuda de consultorias oferecidas pelo Sebrae foi fundamental para a melhoria da torra e impactou efetivamente nos resultados positivos”, relatou na época.
Um dos cafés especiais da Chapada Diamantina de maior sucesso, o Café Rigno, produzido na Fazenda Tijuco, em Piatã, é tetracampeão no Cup of Excellence, tendo conquistado o troféu de “Melhor Café” nas edições de 2009, 2014, 2015 e 2022. O Sítio Bonilha, no mesmo município, também tem se destacado na premiação, levando o 2º lugar na última edição. Os cafés das fazendas Gerais; Divino Espirito Santo; Capão; Cerca de Pedras São Benedito; Ouro Verde; e Campo Alegre, bem como dos sítios São Sebastião; Entre Vales; e Córrego Seco, também já foram listados. “Nesses 23 anos do concurso, a Bahia detém 19% dos cafés vencedores, sendo que Piatã e Mucugê são os maiores produtores do Estado”, enfatiza Sílvio Leite, informando que o Brasil possui 300 mil fazendas produtoras de café, envolvendo em torno de 8,7 milhões pessoas no setor.
“Diamante negro”
Antonio Rigno, proprietário da Fazenda Tijuco, revela como chegou no patamar de um dos maiores produtores de cafés especiais da Chapada. “Costumo dizer que nasci debaixo do pé de café. Meu pai foi um produtor de café e foi dele que herdei o amor pelo grão e, desde então, sempre estive ligado ao mundo do ‘diamante negro’. Há 20 anos vi uma oportunidade de sair do commodities e adentrar no universo dos cafés especiais, me tornando pioneiro na área em Piatã. Começamos a ganhar prêmios e reconhecimento e sempre incentivei os demais produtores a investirem no café especial. Hoje, Piatã é reconhecida mundialmente como produtora de grãos especiais e sinto muito orgulho disso”.
Com uma produção média de duas mil sacas por ano de café 100% arábica, da variedade Catuaí, o dono da Fazenda Tijuco trabalha, principalmente, com a exportação para regiões como Japão, Canadá, Austrália e Noruega. “Aqui, em Piatã, temos uma torrefação que distribui para alguns lugares do país e temos, também, outra torrefação em Piatã e Vitória da Conquista, onde temos também uma cafeteria. Todo esse processo está nas mãos de nossa família”, conta.
O produtor Maridalton Silva Santana também vem de uma família que atravessa gerações no plantio do café. O Sítio Bonilha, em Piatã, pertenceu aos seus bisavôs e, depois, aos seus pais. No município, onde estão as suas origens, ele diz se beneficiar de um dos climas mais propícios para a produção de café especial. “O meu interesse em seguir com o legado da família me levou a buscar conhecimento nessa cultura. Chegar até aqui foi muito difícil, tive muitos erros e acertos. Mas, graças a Deus, estou conseguindo bons resultados na minha trajetória”, diz. O produtor, que tem seu café vendido para várias cafeteiras espalhadas pelo Brasil e exportado para outros países, ainda não tem marca registrada e vende os grãos crus em sacas de 30 ou 60 kg, tendo uma produção anual de cerca de 200 sacas. Para isso, ele conta com a esposa e os filhos, que o ajudam principalmente na despolpa do café e no cuidado dos grãos no pátio.
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Veja o Caderno Municípios desta quinta:
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