CHAPADA
Região é berço de produtos especiais
A Chapada se destaca por seus cafés, frutas vermelhas, vinhos e queijos
Por Letícia Belém
Mundialmente conhecida por seus muitos encantos naturais, a Chapada Diamantina, situada no coração da Bahia, possui 38 mil quilômetros quadrados de natureza exuberante com majestosas montanhas, serras, vales, cânions, cachoeiras, cavernas, nascentes de rios, flores e trilhas que atraem os amantes da natureza de toda parte. Além de ser rica em cultura, história e tradições locais, é também um berço de produtos de alta qualidade, como cafés especiais, frutas vermelhas, vinhos e queijos artesanais.
Essa diversidade oferece um leque de oportunidades para os pequenos negócios locais e para os grandes empresários investirem no turismo de experiências na região. Foi o que aconteceu com o gaúcho Jair Galera, que comprou um sítio em Mucugê após ser demitido, há sete anos, com a ideia de plantar flores. Acabou produzindo morangos porque era o que estava em alta na região.
Após a primeira colheita ele abriu uma lojinha para vender a produção de morangos in natura e congelados dentro de sua casa, acrescentando depois os licores e as geleias.
Daí ele percebeu que as pessoas iam comprar morango, mas também queriam conhecer um pé de morango e saber como é que os frutos são produzidos. “Foi assim que a gente começou devagarzinho abrindo o sítio para este tipo de turismo, e viu a necessidade de plantar outras frutas para agregar mais valor à visitação turística”, contou.
Ele possui 20 mil plantas de morangos, o que gera cerca de 40 toneladas de por ano da fruta em alta qualidade, e também uma pequena produção de dois mil quilos por ano de amora, e uma menor de pitaia e mirtilo. “Eu nunca havia pensado em fazer isso na vida, mas é muito gratificante ver o turista sair encantado e contente de ver de perto as minhas plantações e o respeito que a gente tem com a natureza”, comentou o produtor, que vende suas frutas vermelhas para vários restaurantes de comida natural em Salvador, que as incluem em sucos, drinks e sobremesas.
Outro empresário que decidiu investir na Chapada Diamantina é o João Cerqueira, que possui uma fazenda de plantas e ervas aromáticas e medicinais para produzir óleos essenciais 100% puros no município de Morro do Chapéu, a Akã Óleos Essenciais. João conta que ele e a esposa Ana Cleude decidiram se mudar para o interior quando se aposentaram, há sete anos, mas não queriam ficar parados.
Adquiriram uma fazenda com a ideia de fazer um lavandário, inspirados em uma belíssima plantação de lavandas que visitaram na Europa. Descobriram que eram plantas que gostam de um clima mais frio e alta altitude, e decidiram cultivá-las em Morro do Chapéu. De 2017 a 2021 foi apenas o plantio, totalmente orgânico. Elas se adaptaram e floresceram.
Com o incentivo das filhas e de amigos, começaram a cultivar outras plantas aromáticas, como o alecrim, o capim limão, o patchouli, a hortelã pimenta, o manjericão, erva doce, verbena e várias outras plantas nativas da região que produzem óleos essenciais exclusivos da Akã, como a jurema branca e a arruda-da-serra.
Eles tiveram que estudar muito, plantar, produzir as próprias sementes e mudas e reproduzir as plantas para, só depois de um ano e meio, começarem a produzir óleos essenciais em uma quantidade que justificasse o comércio.
“Com o tempo, fomos aumentando o nosso portfolio e a capacidade produtiva da fábrica, que é totalmente orgânica e certificada pela IBD. A fazenda produz óleos essenciais desde o ano de 2021 e conta hoje com 18 plantas aromáticas na prateleira”, contou o fazendeiro.
Agora, por convite e incentivo do Sebrae, eles estão adaptando o formato do lavandário para abrir para visitação turística. Cultivam em plantações maiores e de uma forma mais espaçada para receber os visitantes, que querem passear dentro das plantações e tirar fotos.
“Está sendo uma nova experiência muito agradável. Nós nunca pensamos em atuar na área de turismo, mas começamos a conhecer esse universo através de simpósios, congressos e treinamentos promovidos pelo Sebrae e, para a nossa sorte, estamos gostando muito”, declarou.
Eles comercializam o vidrinho de 10 mililitros de óleo essencial 100% puro da planta para lojas de produtos naturais, farmácias e para o uso da aromaterapia. A fazenda Akã produz conforme a demanda, mas tem uma capacidade instalada de 15 quilos de óleo essencial por dia, o que dá 1.500 frasquinhos de 10 ml por dia. “
O casal tem recebido a maior parte dos visitantes para conhecer o lavandário, passear por ele, circular por entre as plantações, curtir o lindo visual e até fazer um álbum de casamento na fazenda de 18 hectares com 18 tipos de plantas.
A visita guiada pela fazenda inclui o passeio por todas as plantas aromáticas, podendo cheirar e macerar as folhas para sentir os aromas, fazer fotos e conhecer também o laboratório, a caldeira e os equipamentos que são usados, com explicação de todo o método utilizado para a produção, separação e envase, a lojinha e o que mais a curiosidade do visitante pedir. São duas horas de passeio, sempre muito elogiado, segundo Cerqueira. “A opinião do turista pesa muito em nossas decisões e quem vem diz sempre que valeu muito a pena”.
Outro investidor no turismo sensorial foi o produtor rural Uvilson Santos, que começou, de forma pioneira na Chapada Diamantina, a plantar amoras pretas, a partir de uma palestra do Sebrae que muito o interessou.
Antes ele cultivava apenas morangos e conta que, no mês seguinte, ele começou o plantio com as primeiras 50 mudas das amoras vindas do Rio Grande do Sul, quando ninguém ainda cultivava esse fruto na região.
“Fiz capacitação para entender o processo de produção de amora preta, que é de clima temperado e sazonal, para cultivá-la em regiões não convencionais e fazer a propagação da espécie. Foi uma felicidade conhecer a amora preta, que é uma fruta elitizada, gourmet, de alto valor agregado”, explicou.
“Fazemos colheitas seletivas e diárias ou em dias alternados, de janeiro a janeiro, com uma produção de dez toneladas de amora preta por ano”, comemorou.
Para ele, não foi nada fácil, mas depois da excelente adaptação à região, ele foi buscar mais informações e acabou conhecendo a cultura da framboesa e do mirtilo. Hoje ele produz as quatro frutas vermelhas com certificação orgânica, em dois hectares de terra, sendo a maior área reservada às amoras pretas.
“Nós somos pioneiros no Nordeste na produção de amora e framboesa, e fomos nós que trouxemos essa adaptação para a região. Hoje somos autoridades no assunto”, explicou ele, que vende morangos, framboesas, mirtilos e amoras pretas na loja Casa das Frutas Vermelhas no seu Sítio das Frutas Vermelhas, em Mucugê, e outra loja no centro da cidade, tanto in natura como congeladas, além de geleias, licores e as frutas desidratadas. Vende também para restaurantes em Salvador e no atacado e também consultorias completas para quem quiser empreender no ramo.
Experiência sensorial
O sítio, que fica a um quilômetro da trilha que leva ao Vale do Pati, foi incluído na rota das frutas vermelhas, que será lançada para o mercado de turismo nesse ano pelo Sebrae. Devido à alta procura, ele fez capacitações para bem atender o turista. “Colocamos o sítio aberto à visitação que, além dos pomares, tem uma vista deslumbrante do paredão da encosta de Mucugê. Agora a gente oferece uma experiência sensorial ao visitante, que tem aparecido a cada dia mais”.
“A gente recebe muito reconhecimento pelo trabalho e fica lisonjeado. E esse novo nicho de turismo é ideal para quem não tem condições físicas para subir e aguentar as trilhas”, disse ele.
“Essa cultura recente da Chapada Diamantina, de atrair um novo perfil de visitante para vivenciar novas experiências, tem incrementado o fluxo turístico para a região, fazendo com que as pessoas fiquem mais tempo no destino”, afirmou o secretário estadual de Turismo, Maurício Bacellar.
A secretaria oferece diversos cursos para qualificar a mão de obra envolvida nos serviços turísticos, além de promover o destino e fornecer informações para a atração de investimentos privados
Para ele, a maior prova do crescimento do turismo na região é o aumento de equipamentos turísticos cada vez mais qualificados e até milionários, como é o caso das vinícolas, que estão elevando o destino.
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