GASTRONOMIA
Rio de Contas produz 1º azeite extravirgem do Nordeste
Azeite Rio de Contas é extraído de azeitonas selecionadas, cultivadas de forma sustentável
Por Felipe Viterbo
Iguaria da Chapada Diamantina, o azeite Rio de Contas tem conquistado paladares e se destacado no cenário gastronômico mundial como um produto de qualidade rara. Produzido a mais de um mil metros de altitude, este azeite extravirgem, o primeiro do Nordeste, é marcado por sabores tropicais e já conquistou prêmio em um concurso internacional de Paris.
Com um processo de produção cuidadoso e artesanal, o azeite Rio de Contas é extraído de azeitonas selecionadas, cultivadas de forma sustentável em terras férteis e sob condições climáticas que remetem a um terroir de tipo mediterrâneo. Fruto de um projeto familiar, as oliveiras do tipo ‘arbequina’ produziram o primeiro azeite de oliva da história do Nordeste, que conquistou a medalha de ouro no concurso Olio Nuovo Days de Paris, em 2021.
Segundo o produtor Christophe Chinchilla, o plantio das oliveiras foi realizado em uma fazenda experimental do município de Rio de Contas, há cerca de quinze anos. A primeira colheita, ainda modesta, aconteceu em 2018, sem a produção de azeite. Três anos mais tarde, e depois de algumas adaptações agronômicas, a nova colheita rendeu uma safra histórica, que inaugurou a Bahia e o Nordeste como terras de produção de azeite de oliva.
‘‘Por volta de 2005, meu pai resolveu começar um novo empreendimento, algo um pouco inovador. Naquele momento, o Brasil não produzia azeite, era praticamente tudo importado de Portugal, Argentina e Chile. Então, ele resolveu buscar um lugar que tivesse condições climáticas parecidas com as de sua terra natal, no sul da França. Em Rio de Contas, ele se sentiu em casa e decidiu tentar a aventura’’, contou.
O cuidado com cada etapa da produção do azeite, desde o cultivo em condições de biodinâmica à extração, resultou, no ano de 2021, em um produto final com sabor e aroma inéditos. Com notas frutadas, essa foi a primeira vez que uma região da Bahia produziu azeitonas em quantidade e qualidade suficientes para a produção de azeite.
Ainda de acordo com o empresário, apesar do destaque, o olivar ainda se encontra em fase experimental, necessitando de investimento em pesquisa e aprimoramento, visto que ainda não foi possível produzir uma quantidade de azeitonas que fosse sustentável de um ponto de vista econômico.
‘‘Aqui, no nosso pomar, metade das árvores nunca produziu e a outra metade produz uma vez a cada três anos. A gente ainda está muito longe dos padrões alcançados no Rio Grande do Sul e na Europa, onde cada pé costuma produzir cerca de 20 kg de azeitona por ano. Além disso, ao invés de produzir todo ano, estamos produzindo uma vez a cada três anos. E, ao invés de 20 kg, estamos colhendo, em média, 5 kg por pé’’, ressaltou.
Em Rio de Contas, novos testes estão sendo conduzidos, incluindo a técnica do sombreamento. Conforme Chinchilla, duas oliveiras que tradicionalmente florescem e frutificam todos os anos estão localizadas à sombra de um pequizeiro de grandes proporções. Especula-se que essa condição possa estar influenciando dois aspectos cruciais: primeiro, o aumento da disponibilidade de frio, uma vez que ambientes sombreados tendem a ser mais frescos; e segundo, a mitigação da seca, que na Chapada Diamantina coincide com o início da primavera.
De acordo com os observadores, as árvores só começam a florescer em setembro, momento em que o calor é mais intenso devido à falta de chuvas prolongadas, o que também aumenta o risco de incêndios. Como resultado, a floração muitas vezes é seguida por uma quebra na produção devido às altas temperaturas. A prática do sombreamento surge como uma possível solução para esses desafios, embora ainda não tenha sido comprovada por testes formais.
Perspectiva de futuro
Ainda de acordo com o empresário, o projeto visa estabelecer este ano uma parceria de pesquisa com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Cerrado (Embrapa Cerrados), que obteve sucesso na adaptação da cultura da soja à vegetação local. Essa colaboração é considerada de grande importância do ponto de vista econômico, dada a reputação da Embrapa como referência no setor. “Estamos buscando trazer essa parceria de pesquisa para a Chapada, a fim de concluir esses testes”, destacou Chinchilla.
O compromisso com a qualidade e a tradição fazem do azeite Rio de Contas um tesouro da gastronomia brasileira, levando o sabor único da Chapada Diamantina para as mesas de todo o mundo. Além de ser uma excelente opção alimentar, o azeite também é reconhecido pelos seus benefícios à saúde. Rico em antioxidantes e ácidos graxos essenciais, como o ômega-3 e o ômega-6, esse elemento contribui para a prevenção de doenças cardiovasculares e promove o bem-estar de forma geral.
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