PLATAFORMA
Prédio de fábrica do século XIX deve virar “Parque das Ruínas”
Requalificação de edifício histórico no Subúrbio integra o projeto do VLT de Salvador
Por Lula Bonfim

Quem pensa que a instalação do modal VLT (veículo leve sobre trilhos) trata-se apenas da colocação de trilhos, da construção de paradas e da compra de trens está muito enganado. O projeto, na verdade, envolve toda uma ideia de urbanização e requalificação de setores de Salvador que hoje carecem da estrutura necessária para a chegada do modelo, especialmente nas regiões do Subúrbio Ferroviário e do Miolo.
Um dos prédios mais importantes da história do Subúrbio é o da antiga Fábrica São Braz, na praia de Plataforma, com sua arquitetura neoclássica quase banhada pela Baía de Todos-os-Santos. Foi essa fábrica de tecidos que deu início ao bairro, a partir de sua instalação, em 1875. Desativado em 1967 e tombado desde 2002, o edifício hoje em ruínas deve passar por uma grande reforma nos próximos anos, no âmbito das obras do VLT de Salvador, dando vitalidade à região.
A ideia é transformar o prédio no “Parque das Ruínas”, um equipamento voltado para oferecer espaços às atividades comerciais do Subúrbio, com bares, restaurantes, um espaço multiuso e um foyer, atraindo moradores locais e também turistas. O local, além de vista deslumbrante para o mar da maior baía do país, também poderia receber eventos culturais.

Ao lado do prédio da antiga fábrica do século XIX, o Terminal Marítimo de Plataforma também deve sofrer intervenções, requalificando-o para receber um número maior de embarcações, saídas não apenas do bairro da Ribeira, mas de todos os pontos da Baía de Todos-os-Santos, em direção ao futuro “Parque das Ruínas”.
“A ideia é aproveitar a antiga estrutura da Fábrica São Braz e revitalizar a região, fazendo um complexo de atividades comerciais de Salvador, aproveitando a vocação da região para consolidar e desenvolver o Parque das Ruínas. O terminal poderá ser ampliado e revitalizado para receber outras embarcações, que poderão incrementar ainda mais essa região”, diz o memorial descritivo do Edital.

No anteprojeto divulgado pelo governo de Jerônimo Rodrigues (PT), o VLT passa ao lado do Parque das Ruínas, com vista para o equipamento histórico e para a Baía de Todos-os-Santos.
O projeto tem inspiração no Centro Cultural Municipal Parque Glória Maria, no Rio de Janeiro, que transformou a mansão abandonada de uma antiga socialite carioca em um grande espaço público, que recebe diversos tipos de apresentações artísticas, como exposições, peças teatrais e até shows musicais. Na capital fluminense, o local se tornou um importante ponto turístico.

A urbanização da região e a requalificação do edifício histórico, transformando-o em Parque das Ruínas, não é um projeto isolado. Desde que o governo da Bahia anunciou a licitação do VLT de Salvador e divulgou seu Edital, o portal A TARDE destrinchou as ideias da gestão de Jerônimo Rodrigues.
Serão 35 paradas em três trechos de VLT, urbanização de orla no Subúrbio, arquitetura focada na cultura afro-baiana, novo sistema de cobrança de tarifa, revitalização de ponte, ampliação de túneis históricos e, agora, o Parque das Ruínas, com entrega total prevista para 2028.
Os executores das obras só serão conhecidos, porém, a partir de março de 2024, quando será divulgado o projeto definitivo do novo VLT de Salvador, em substituição ao que foi uma das mais importantes e simbólicas ferrovias do Brasil.
História
Em 1860, a inauguração da primeira estrada de ferro da Bahia, ligando Salvador a Alagoinhas, mudou para sempre a região que hoje é conhecida como “Subúrbio Ferroviário”. Foi por causa da linha férrea que, em 1875, foi instalada a fábrica de tecidos São Braz, que deu origem ao bairro de Plataforma.
A consequência disso foi o crescimento do número de moradores, com a formação da vila operária, formada pelos trabalhadores da São Braz e de uma outra fábrica que também se instalou na região, a União Fabril dos Fiais.
Com o tempo, outros benefícios foram chegando à região, como a Estação de Trem Almeida Brandão, em Plataforma; o abastecimento da feira local com mercadorias advindas do interior da Bahia; e a chegada da iluminação elétrica.

Em 1932, a Fábrica São Braz esteve sob o comando de uma das famílias mais ricas e tradicionais da história de Salvador, liderada pelo aristocrata Bernardo Martins Catharino, tratado pelo título de “comendador”.
Com a morte do comendador Catharino em 1944 e assunção do comando da fábrica por parte de seus herdeiros, o maquinário industrial e o sistema de produção acabaram ficando obsoletos, fazendo os acionistas decidirem pelo fechamento da empresa em 1959.
A fábrica chegou a ser reaberta em 1961, mas, em um período difícil do setor industrial na Bahia, teve suas atividades encerradas definitivamente em 1967.

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