UNIVERSO ORIENTAL
Salvador pode ganhar Festival de Cultura Coreana; confira
Realizador do Festival Bon Odori, empreendedores e fãs falaram sobre a falta de eventos asiáticos na capital
Por Luana Leal*
Salvador, a cidade onde os tambores ressoam pelo centro histórico e o axé embala multidões durante o carnaval. Mas, em meio a essa efervescência cultural, a mais de 15 mil quilômetros do continente asiático, um universo de fãs de K-pop, doramas e culinária asiática busca espaço para expressar suas paixões.
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Uma das mais atrativas produções voltada aos fãs da cultura asiática, a aguardada 16ª edição do Festival de Cultura Japonesa tem início nesta sexta, 30, e segue até o domingo, 1º. Em entrevista ao Portal A TARDE, o presidente da Associação Cultural Nippo-Brasileira de Salvador (Anisa), Marcelo Shimizu, revelou que a expectativa é receber 90 mil pessoas nos três dias de evento.
O Bon Odori não é mais um evento nichado. Após a pandemia, tivemos um grande aumento na quantidade de públicos comparado à antes da pandemia. Então, tivemos a adição de 2022 e a de 2023. E o público foi bem parecido
Marcelo Shimizu ainda opina sobre a falta de eventos voltados para a cultura japonesa tradicional e pop na capital baiana. “No nosso evento, diferente dos outros lugares, tentamos focar também muito na parte voltada aos jovens, ao pop, exatamente pela falta de outros eventos nesse nicho”.
Questionado sobre a possibilidade de realizar o evento duas vezes ao ano, Marcelo Shimizu declarou que isso é bem difícil de acontecer. Ele explicou que recebem muitos pedidos para promover o Festival mais de uma vez, contudo, a Anisa é uma associação sem fins lucrativos composta por ‘quase 100% de voluntários’ que possuem outras responsabilidades, trabalhos por fora, e ainda assim, nas horas vagas, se reúnem e fazem a festa acontecer.
O Festival oferece uma programação com atrações para todas as idades, incluindo oficinas culturais, concursos, jogos, shows de música e dança, artes marciais e workshops.
Fãs também reclamam da falta de eventos
Com a febre do K-pop (korean pop | música pop coreana) crescendo cada dia mais entre os jovens, o Brasil já foi palco de muitos shows de grupos coreanos como o BTS, Girls' Generation e Monsta X.
Fã do Ateez desde 2019, a soteropolitana Samira Almeida disse que enfrentou grandes desafios para participar do show dos músicos em São Paulo, a única opção viável para ela, já que Salvador não estava inclusa no itinerário dos artistas.
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“Foi minha primeira vez viajando para fora, foi tudo inédito. Se fosse aqui em Salvador, eu iria sempre e seria muito mais fácil. Eu adoraria estar na minha cidade e poder aproveitar um show do artista que eu amo. Quando fui para São Paulo, precisei me sacrificar muito para participar”, afirma Samira, que explica ter planejado cada detalhe da viagem para aproveitar o evento na capital paulista.
Samira também destacou a dificuldade em encontrar produtos relacionados à cultura asiática na cidade, recorrendo às compras online, enfrentando taxas e custos adicionais.
"Eu queria poder comprar um álbum ou uma blusa aqui mesmo, sem ter que recorrer à internet e pagar taxas absurdas. Se tivesse algo assim em Salvador, seria maravilhoso".
Fã de séries tailandesas, Juliana Ariel compartilha da mesma opinião. A designer revelou o desejo de existir uma ‘mini Liberdade ou Bom Retiro’ em Salvador - bairros de São Paulo conhecidos pelas lojas de produtos asiáticos, desde comidas a álbuns musicais. No início do mês, ela participou de um encontro de fãs e atores da produção ‘Pitbabe’ na capital paulista.
Foi uma sensação única. Está reunido com vários fãs, ficar perto dos seus artistas favoritos e interagir com eles, é de uma extrema felicidade e satisfação
Moradora de Candeias, Região Metropolitana de Salvador (RMS), Mara Almeida é dona do perfil no Instagram ‘Pra Quem Gosta de Doramas’, que reúne mais de 30 mil seguidores interessados nas ‘novelas asiáticas’.
A produtora de conteúdo participou da Flipelô e afirmou que assim como muitas pessoas vão a feira literária sem ser leitor assíduo, os eventos de cultura asiática seriam abraçados pelos soteropolitanos.
“Acredito que faltam outras opções de lazer. O povo da Bahia é muito aberto para o novo. Tem pessoas que vão pra se divertir, que vão pra conhecer justamente o que é diferente e ver se vai gostar", afirma Mara Almeida.
Produtores de eventos opinam
Mesmo com uma cultura tão diferente sendo importada para a ‘capital afro’, o público soteropolitano não se limita aos festivais. Os produtores de eventos de ‘K-pop’, Ives Damasceno e Junot Freire, fundadores do ‘Kpoppers Baianos’, há 10 anos realizam eventos na capital e já movimentaram mais de 148 grupos nos concursos de dança.
“Existe um conflito até que a gente perpassa de vez em quando. Questionam o porquê estamos fazendo um evento de cultura coreana quando poderíamos estar pensando em algo para promover a cultura afrocentrada, né? Que é a raiz de Salvador”, disse Ives Damasceno, ressaltando a necessidade de mais investimentos e oportunidades.
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Junot relembrou que repetidas vezes houveram dificuldades em executar algumas ideias por conta do receio dos patrocinadores.
Mesmo assim, promovemos eventos com ingressos esgotados. Inclusive, um em 2018 esgotou e ainda ficou uma fila de pessoas do lado de fora do teatro
Ao Portal A TARDE, os produtores opinaram que Salvador é uma cidade que carece de mais eventos como o Festival de Cultura Japonesa. De acordo com eles, 'o público soteropolitano, principalmente os jovens, consomem muito a cultura asiática, em especial a japonesa, por influência dos animes e mangás'.
Festival de Cultura Coreana?
Dono de um restaurante de comida coreana de Salvador, o Chef Kion Seo inaugurou o espaço em 2023, se tornando um dos principais pontos turísticos dos curiosos pela culinária oriental. Carismático e quebrando o tabu de que os asiáticos são ‘frios’, o cozinheiro é uma das atrações do local, indo à mesa de todos os clientes para explicar como funciona cada prato.
Salvador é uma cidade onde as pessoas têm o ‘coração quente’. Fui muito bem recebido. Aqui visitam clientes de diferentes idades e gostos, desde jovens a idosos
Em entrevista ao Portal A TARDE, o chef do ‘Kion Korean Cuisine’, localizado na Pituba, compartilhou o desejo de realizar um evento voltado para a cultura coreana. "Tem o Festival de Bon Odori, eu pretendo promover um parecido, porém voltado para a Coreia do Sul, já que não existe um voltado para isso”.
Natural da cidade de Seul, capital da Coreia do Sul, Kion comentou que a capital baiana teria capacidade ter opções de lazer alinhadas com a cultura asiática, já que possui público para isso.
Um ano e seis meses após a inauguração, o restaurante recebe, em média, 3 mil pessoas por mês e acumula 45 mil seguidores no Instagram. Os pratos mais pedidos são 'lamen' coreano, 'bibimbap' e 'yangneom chicken'.
*Sob a supervisão do editor Daniel Genonadio
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