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TEMPO PERDIDO

Retomada da indústria no Brasil busca corrigir erro estratégico

Queda da participação industrial no PIB é tendência global, mas aceleração do processo levou à perda de competitividade

Por Alan Rodrigues

07/01/2025 - 12:00 h
Agroindústria tem papel fundamental entre as missões que compoem a neoindustrialização brasileira
Agroindústria tem papel fundamental entre as missões que compoem a neoindustrialização brasileira -

Seguindo uma tendência global, a indústria no Brasil perdeu nas últimas décadas, grande parte da sua participação no PIB. Tendência que, apesar de não poder ser revertida, vem sendo atenuada com a retomada do crescimento econômico.

O reflexo disso pode ser visto no crescimento de 29% nas vendas de produtos das linhas branca (geladeiras, fogões, ar condicionado, lavadoras de roupas...) e marrom (eletrônicos, TV´s, equipamentos de áudio e vídeo). Além disso a indústria automotiva teve aumento de 15% no volume de vendas, melhor índice entre as 10 maiores economias do mundo.

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A perda de espaço da indústria na economia brasileira se acentuou nos últimos anos, reduzindo o valor agregado das nossas exportações e resultando em perda de competitividade do produto nacional, como explica Vladson Menezes, Superintendente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb).

“Se olharmos o ranking de complexidade econômica ao longo do tempo, em 1995 o Brasil era o 25º. Em 2021, dado mais recente, 70º. Complexidade significa que você tem vários setores de valor agregado. No Brasil houve uma queda significativa, a indústria perdeu espaço e um movimento de desindustrialização ocorreu”, explica Menezes.

A perda de espaço da indústria frente ao PIB, no entanto, não é necessariamente ruim. O problema no Brasil foi a velocidade com que ela aconteceu. Segundo Vladson, o desenvolvimento é acompanhado pela redução da importância do setor industrial na economia.

“Vai mudando padrão de consumo, as pessoas consomem mais serviços, por outro lado a indústria vai terceirizando, o que era indústria vira serviços. No Brasil o processo foi mais rápido e mais intenso. O que a gente teve foi a perda de competividade ao longo do tempo”, conclui.

Para o secretário do Conselho Nacional de Desenvolvimento da Indústria (CNDI), Uallace Moreira, a retração acelerada da atividade industrial se refletiu na balança comercial.

“Desindustrialização acontece no mundo inteiro, redução da participação no PIB e geração de empregos totais. Só que no caso brasileiro a desindustrialização foi muito precoce e muito acelerada”, ratifica.

Além disso, Moreira avalia de forma negativa a redução da participação da indústria nos setores mais complexos tecnologicamente. “Isso se refletiu na pauta exportadora brasileira, com produtos de menor valor agregado passando a dominar a pauta”.

Retomada

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o país de fato está passando por uma retomada dos investimentos. “Vemos quase 7% de crescimento real do investimento nesses três primeiros trimestres de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023. São quase 2 trilhões de reais investidos nos últimos quatro trimestres”, comemora o diretor de Política Industrial da CNI, Rafael Lucchesi.

Ele destaca que os impactos de médio e longo prazo são imediatos, não só na indústria, mas também em outros setores, ‘à medida que esses investimentos são finalizados e podemos ver os empreendimentos e inovações resultantes começarem a funcionar’.

Em termos de geração de emprego, Lucchesi já vê os resultados no mercado de trabalho. ‘Tivemos 661 mil novos postos de trabalho formais criados na indústria brasileira nesses 10 primeiros meses de 2024, sendo 400 mil deles na indústria de transformação e 234 mil na indústria da construção’.

Na Bahia, o encerramento das atividades da Ford em Camaçari (2021) e a concorrência dos produtos importados, notadamente os petroquímicos, aliados à pandemia, que implicou na interrupção das cadeias de suprimento em escala global, acentuaram o desemprego, a renda e a demanda.

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Segundo a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego), o fechamento da planta Ford, e por consequência dos seus fornecedores no estado, reduziu o emprego direto no segmento automobilístico de 8.200 postos de trabalho, em 2019, para menos de 1.400 em 2023.

Desde então, o governo do Estado adotou várias iniciativas, no sentido de fomentar a recuperação do setor. Desde 2020, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), o número de estabelecimentos industriais na Bahia voltou a crescer e o emprego nas indústrias de transformação saltou de 202 mil postos em 2019 para 248 mil em 2023 – um aumento de 23%.

Um dos símbolos dessa recuperação é fruto da Missão do Governo do Estado à China, com a atração da BYD para ocupar o lugar da Ford, com anúncio de 20.000 empregos diretos e indiretos, com metade desse número sendo criado até 2026, um investimento total de R$ 5,5 bilhões.

Além disso, a Bahia conta com vários outros projetos na área da indústria:

Acelen: R$ 12 bilhões na produção de diesel e querosene de aviação renováveis, com base em óleos vegetais;

Braskem: R$ 1 bilhão em suas operações na Bahia;

Unipar: R$ 140 milhões em ampliação da fábrica de Camaçari para produção de cloro e soda;

Goldwind: R$ 100 milhões na fabricação de turbinas;

Sinoma Blade: com a produção de pás, adensam e completam nossa cadeia de equipamentos para a construção de usinas eólicas;

Impacto Bioenergia, Petrobahia e outros investidores: R$ 1,8 bilhão na implantação de biorrefinaria para a produção de etanol de milho;

Largo Inc. de vanádio: R$ 3 bilhões para a produção de dióxido de titânio, matéria-prima fundamental para vários segmentos da indústria;

Grupo São Braz: R$ 300 milhões em uma fábrica de alimentos em Conceição do Jacuípe.

Vipal Borrachas: R$ 1,1 bilhão em nova fábrica de pneus para caminhões, ônibus e motocicletas, em Feira de Santana.

Inpasa: R$ 1,3 bilhão em biorrefinaria de etanol, deixando de importar cerca de 700 milhões de litros de etanol de Goiás, equivalente a 70% do consumo atual do Estado. Após o início das operações, em 2026, a Bahia se tornará autossuficiente em etanol.

Bamin: R$ 20 bilhões na exploração do ferro em Caetité e na implantação de parte da Ferrovia Oeste-Leste nos próximos quatro anos;

South Star: R$ 80 milhões na produção de grafita em Santa Cruz

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