CRIMES CIBERNÉTICOS
MPBA lança campanha para proteger crianças da violência digital
Campanha inclui a plataforma “Fala, Filho”, que usa inteligência artificial para orientar famílias sobre segurança na internet

Mais de 76 mil denúncias anônimas de violações de direitos humanos e outros crimes no ambiente digital foram registradas em 2025. Os números são alarmantes e, segundo a SaferNet Brasil, 60% dessas ocorrências estão relacionadas a abuso e exploração sexual infantil - um total de 49.336 registros apenas entre janeiro e julho.
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Entre os principais crimes estão o cyberbullying, o aliciamento sexual, a exposição indevida da imagem, o acesso à pornografia e a instigação a episódios autodestrutivos. Diante desse cenário, o Ministério Público da Bahia (MPBA) lançou, nesta quinta-feira, 23, a campanha “O cuidado não pode ficar só no off”, voltada à conscientização sobre os riscos da violência no ambiente digital e à promoção de uma internet mais segura para crianças e adolescentes.
O evento de lançamento foi realizado na sede do MPBA, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador.
Em entrevista exclusiva a A TARDE, a promotora de justiça Ana Emanuela Rossi, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Criança e do Adolescente (Caoca), destacou que há inúmeras situações em que crianças e adolescentes são expostos a conteúdos e interações nocivas, resultando em adultização, sofrimento psíquico, ansiedade, depressão e até comportamentos autodestrutivos ou violentos.
“O objetivo da campanha ‘O cuidado não pode ficar só no off’ é justamente conclamar e convidar os pais, responsáveis, cuidadores de crianças e adolescentes para que façam o que já fazem no mundo físico, estendendo esse cuidado também para o ambiente digital, fazendo com que crianças e adolescentes acessem os benefícios da tecnologia, mas também que protejam os seus direitos, que estejam a salvo de qualquer tipo de violência, de constrangimento e de opressão”, pontuou a promotora.

Plataforma “Fala, Filho”
Uma das principais ações da campanha é o lançamento da plataforma digital “Fala, Filho”, um ambiente voltado à sensibilização de pais e responsáveis sobre o uso seguro da internet. A ferramenta, que utiliza inteligência artificial, oferece respostas para dúvidas frequentes coletadas junto a cuidadores do público infantojuvenil. A plataforma está disponível no site: www.falafilho.com.br.
“O mais interessante é que essas informações são transmitidas por avatares digitais, que têm idades de crianças e adolescentes. Isso dá protagonismo ao público infantojuvenil e também cria uma empatia entre essas famílias, aumentando essa conexão, além de fortalecer esses laços familiares de proteção e cuidado”, explicou Rossi.
Todas as informações serão enviadas para escolas municipais, estaduais e privadas da Bahia, a fim de garantir o acesso de todos a esse conhecimento e à plataforma.
“Faremos ações também nas escolas, distribuindo material informativo para disseminar esse conhecimento e tornar essa missão de proteger crianças e adolescentes real”, acrescentou a promotora.
De acordo com dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, 93% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos no país utilizam a internet, e quase 3 em cada 10 relataram ter vivido situações ofensivas online. O estudo também aponta o contato frequente de jovens com desconhecidos e episódios de discriminação nas redes, reforçando a importância de políticas públicas e educativas de proteção digital.
Presente na cerimônia de lançamento, a assistente social e mãe de dois adolescentes, Bruna Silva, contou que já adota medidas de acompanhamento e filtragem do conteúdo acessado pelos filhos.
“O acesso hoje à internet, além dos inúmeros apelos para a infância e principalmente para a juventude, demanda alguma atenção maior, tanto por parte dos pais, dos educadores e da sociedade em geral. [...] Para além disso, enquanto mãe, eu já tomo alguns cuidados com relação ao acesso de conteúdos nas redes que os meus filhos acessam, mas a partir dessa iniciativa tive acesso a outras informações importantes, principalmente no que diz respeito à garantia dos direitos das crianças e adolescentes diante das violações que ocorrem no ambiente virtual”, disse.

Conscientização e prevenção
Compondo a mesa do seminário “Um olhar para a vítima: reconhecimento, acolhimento e garantia de direitos”, a vereadora de São Paulo Ana Carolina Oliveira, autora do projeto ‘Silêncio que Grita’, ressaltou que a iniciativa busca promover a conscientização contra o abuso, a violência e a exploração sexual infantil.
“Esse tema tem sido uma prioridade para mim. [...] O meio digital veio para ficar e precisamos saber como lidar e trabalhar com ele. Achar que os nossos filhos estão seguros só porque estão atrás de uma tela é um engano, porque o perigo pode estar em todos os lugares. Cabe a nós, pais, fazermos esse monitoramento e esse cuidado com eles”, disse.

A ação de enfrentamento à violência digital será veiculada em TVs, rádios, sites e outdoors com a mensagem central: “O cuidado não pode ficar só no off. Proteja crianças e adolescentes da violência no ambiente digital”.
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