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CORRIDA ELEITORAL

House of Cards? Futuro das eleições dos EUA ainda pode ter reviravolta

O cientista político e especialista em pesquisas Bruno Soller analisa quais serão os cenários possíveis no país

Por Carla Melo e Felipe Sena

23/07/2024 - 16:22 h
Casa Branca, em Washington  D.C
Casa Branca, em Washington D.C -

Nos últimos dias, um cenário marcado por uma série de acontecimentos dignos de uma cinematografia norte-americana marcou a política estadunidense: um atentado de assassinato contra um ex-presidente populista de extrema direita (com direito à spoiler em episódio dos Simpsons), uma desistência de última hora por pressão partidária que viabiliza uma enorme rachadura democrata e uma polarização marcada por especulação e dúvidas.

Tudo isso em apenas 15 dias, escancara o que para o cientista político Bruno Soller será uma “eleição absolutamente dura e difícil”. Primeiro porque Donald Trump conseguiu o que até então não era possível: a unificação do partido em prol do seu nome logo após o atentado a tiros contra ele, durante um comício eleitoral em Pensilvânia, nos Estados Unidos, há uma semana.

“O atentado ao republicano fez com que Trump conseguisse uma unidade praticamente absoluta em torno do seu nome. A gente teve umas prévias que foram bastante duras, com umas candidaturas muito contrárias ao Donald Trump, e a tudo que ele representava, mas você começa a perceber um caminhar dos republicanos, até com a escolha do vice, sendo de total responsabilidade do Donald Trump, para um caminho de um conservadorismo mais forte dentro do partido. Isso faz com que os republicanos estejam em unidade”, explica.

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Outro acontecimento marcante na história dos Estados Unidos foi há apenas dois dias, com a renúncia do mandatário Joe Biden da corrida eleitoral. O ato não tem precedentes na história eleitoral moderna do país e foi considerado um movimento de alto risco para as eleições.

Com a saída de Biden, os delegados agora precisam encontrar um substituto, que ainda não foi oficializado, apesar de Kamala Harris já concentrar mais de 2,5 mil apoios. Ainda de acordo com Soller, a série de acontecimentos com a saída do Biden, e o gesto dele e a forma como ele saiu e o apoio à Kamala Harris faz com que o partido Democrata também avance para uma unidade em torno da sua candidatura.

“Isso faz com que os democratas tenham uma postura completamente antagônica aos republicanos, e venham com uma candidatura extremamente progressista. Então você tem um enfrentamento dos conservadores com os progressistas mais radicalizado com essas duas candidaturas”, continua ele.

Oposição progressista

Concomitantemente ao embalo polarizado, os estadunidenses foram atingidos com uma nova perspectiva eleitoral. A oposição democrata que segue sendo uma grande muralha partidária com os republicanos está sendo constantemente ventilada em duas grandes figuras femininas: Kamala Harris e Michelle Obama.

A defesa da democracia, direitos humanos, migração e o conflito militar entre Israel e a Faixa de Gaza são algumas das pautas defendidas pela favorita Harris, que vão em contrapartida com as ideologias políticas de Trump. Mulher negra e progressista, Kamala Harris torna-se um nome forte na corrida eleitoral e apresentou uma disputa acirrada com o republicano. Segundo pesquisas, Donald Trump detém 48% de apoio na média de seis pesquisas recentes enquanto Harris detém 47%.

> Saiba quem Kamala Harris poderá escolher como candidato à vice

Apesar de ser constantemente mencionado durante as corridas eleitorais norte-americanas, o nome de Michelle Obama não deve ser traçado na disputa. Isso porque dois motivos levam para esse cenário: a não intencionalidade de Obama em se candidatar e o ambiente polarizado criado após a desistência de Biden.

“Obviamente que a Michelle Obama, por tudo que representou o Barack nos Estados Unidos, seria uma candidatura que tem a capacidade de dialogar inclusive com republicanos mais moderados. Mas isso é impossível. Me parece que a gente vai caminhar para uma eleição bastante polarizada. Tem uma pesquisa Pew Research Center (PRC) , que mostra o perfil dos americanos e como que eles veem a política. A Kamala Harris é oriunda disso, então ela é negra, ela é mulher, ela tem um discurso progressista, histórico, então eu imagino que ela vai fazer essa frente”, explica ele.

O que esperar?

Soller reafirma que o atentado de Trump jogou uma nova áurea para a política norte-americana, que se concomita com a crença do século XIX de que o estadunidense foi eleito por Deus para civilizar a América do Norte. Trump se tornou esse escolhido.

“Trump dá essa sensação de unção divina e daí você começa a fugir do campo só político e entra num campo religioso que tem muita força nos Estados Unidos. Ele acaba sendo favorito devido ao atentado, não pelas posições dele, não pela sua radicalidade, pelo contrário, tanto que ele tá começando a discutir e tentava ir pro centro falando de democracia, que é uma assunto que não era pauta dele. Até por conta da invasão ao Capitólio e etc, ele era visto como uma ameaça à democracia, de repente ele vira um certo guardião desse processo”, explica o cientista político.

Apesar de todas as polêmicas em torno do nome de Trump, e as questões econômicas impactadas por suas decisões enquanto presidente dos Estados Unidos, sua figura ainda é símbolo de vanglória por parte dos estadunidenses. O especialista político afirma ainda que esse cenário será marcado por uma dura e difícil batalha eleitoral.

“Então, passando em geral, acho que essa é uma eleição absolutamente dura, difícil, o Trump é favorito em função do que aconteceu, apesar de que você vai ter uma candidatura afirmativa, que é a candidatura da Kamala Harris, com posições progressistas e com um governo que tem entregado bem no campo econômico. Então é um cenário de uma eleição dura, mas que se a gente tiver que balancear hoje, o Trump sai um pouco na frente”, finaliza ele.

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Tags:

Donald Trump eleições presidenciais EUA joe biden Kamala Harris

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