POLÍTICA
Lula faz aceno aos evangélicos com indicação de Messias ao STF
Ministro da AGU deve ser escolhido para a sucessão de Barroso

Por Cássio Moreira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve indicar nos próximos dias o nome do ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF). O provável movimento do petista é encarado como um aceno aos evangélicos faltando menos de um ano para as eleições.
Jorge Messias tem 45 anos e é evangélico da Igreja Batista, frequentando o templo de Brasília desde 2016. Nos últimos anos, ele tem participado de atos de ruas do segmento protestante, a exemplo da Marcha para Jesus. A parcela evangélica do eleitorado é vista como um desafio para o Palácio do Planalto para 2026, uma vez que parte dela se alinhou ao discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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A indicação de Lula, caso se concretize, também será uma 'resposta' ao que foi feito pelo próprio Bolsonaro, que escolheu André Mendonça, também evangélico, como um afago ao setor, um dos pilares da sua vitoriosa campanha em 2018.
Na época da escolha de Mendonça, Bolsonaro se comprometeu a indicar alguém "terrivelmente evangélico para o posto". Quando a indicação foi aprovada pelo Senado, responsável por sabatina o candidato para a vaga de ministro do STF, em 2021, o então presidente reafirmou sua intenção.
"O meu compromisso de levar ao Supremo um "terrivelmente evangélico" foi concretizado no dia de hoje", escreveu Bolsonaro em uma publicação no X, antigo Twitter.
Para Cláudio André de Souza, cientista político e colunista do Grupo A TARDE, a possível escolha pelo nome de Messias é fruto de uma cálculo que envolve uma tentativa de aproximação com o setor e a indicação de um nome que seja de confiança.
"Essa nomeação, uma possível indicação e tramitação no Senado, envolve um nome que o governo veja que vai ter uma confiança muito grande. Alguns segmentos entendem que é importante ter figuras ligadas ao seu grupo e sua matriz ideológica no Supremo. Lula nomear um evangélico representa o aceno ao segmento que o PT tem se afastado diante de várias pesquisas de opinião. O cálculo é se aproximar de uma perspectiva de diálogo com um segmento importante na sociedade", pontuou Cláudio André, em entrevista ao Portal A TARDE.
O analista político reforçou a linha de raciocínio de que o 'fator confiança' é um elemento determinante para a indicação para a Corte.
"Entendo que há outros elementos. O que a gente tem no nosso sistema presidencialista não é usar o STF para nomear segmentos da sociedade civil, mas essas interseccionalidades de perfil do Supremo entram no cálculo político. Eu acho que o fator mais determinante em uma escolha desse tipo é a confiança", afirmou.
O que pensa a bancada evangélica?
Apesar da orientação religiosa de Messias, parte da bancada evangélica da Câmara dos Deputados e Senado ainda resiste a uma possível ida do ministro da AGU para o STF. Líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante já declarou publicamente que ele não representa a grande massa do segmento.
“Ele [Messias] não está sendo indicado por ser evangélico, está sendo porque ele é petista. E ele, como petista, representa só 5% do segmento evangélico, que são os evangélicos esquerdistas e progressistas", destacou na última semana.
O Portal A TARDE tentou contato com Sóstenes para entender o ponto de resistência do grupo evangélico, mas não obteve retorno nos últimos dias. Na contramão do parlamentar, o também deputado e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ) disse aprovar a ida do ministro para a Corte.
"Minha posição é clara: o conservadorismo se impõe por inteligência, não por birra ideológica. Que Deus nos dê sabedoria para usar todas as ferramentas disponíveis contra a agenda progressista", afirmou em publicação nas redes sociais.
O Portal A TARDE também tentou contato com os deputados Márcio Marinho (Republicanos) e Rogéria Santos (Republicanos), ambos ligados à Igreja Universal. O primeiro parlamentar não respondeu as mensagens da reportagem, enquanto a segunda, por meio de sua assessoria, afirmou que preferia, no momento, não se manifestar publicamente acerca do tema.
Quem é Jorge Messias?
Procurador da Fazenda Nacional desde 2007, Jorge Messias tem 45 anos e já ocupou diversos cargos dentro da esfera federal. Antes de ser nomeado ministro da AGU no terceiro mandato de Lula, ele esteve em postos como subchefe para Assuntos Jurídicos da Presidência da República, secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação e consultor jurídico dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Quanto tempo Messias pode ficar no STF?
Caso seja indicado por Lula para o STF, Jorge Messias pode pemanecer no posto até 2055. A idade máxima para permanência no cargo de ministro do Supremo é de 75 anos.
Messias, entretanto, pode deixar o STF antes do prazo exigido, se for de sua preferência, repetindo o gesto de Luís Roberto Barroso, que sairá aos 67 anos.
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