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24/07/2024 às 7:30 - há XX semanas | Autor: Edvaldo Sales

ENTREVISTA

As novelas vão acabar? Especialistas opinam: “Falta ousadia"

Cineinsite A TARDE ouviu estudiosos e atores para falar sobre o futuro da teledramaturgia na TV aberta e no streaming

Camila Queiroz, Giovanna Antonelli e Camila Queiroz estão no elenco de 'Beleza Fatal'
Camila Queiroz, Giovanna Antonelli e Camila Queiroz estão no elenco de 'Beleza Fatal' -

As novelas na TV aberta estão perdendo audiência e vão acabar? A TV aberta tem um prazo de validade? Esses são alguns dos questionamentos que ganharam força após o "boom" dos serviços de streaming no Brasil, que vem ditando o mercado do entretenimento nos últimos anos.

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São muitas as possibilidades disponíveis para quem quer consumir filmes e séries atualmente. No meio disso, porém, um tipo de produção tem gerado curiosidade em relação ao seu futuro: as novelas, que, tradicionalmente, têm como casa a TV aberta, com mais sucesso na Rede Globo. Mas esse cenário tem mudado.

Desde que surgiu em 2015, o Globoplay passou por uma série de mudanças, mas um aspecto permaneceu: ele segue sendo conhecido como a plataforma para o público assistir às novelas clássicas da Globo, o que se mostrou uma excelente iniciativa, e isso foi exemplificado em números. Em 2023, um balanço revelou que o gênero foi o conteúdo mais assistido na plataforma em 2022, com um crescimento de 35% em comparação ao ano anterior.

Mas o ponto agora é que outros streamings passaram a apostar nessas narrativas mais longas. E mais: não são reexibições, mas sim conteúdos originais. Uma delas é ‘Beleza Fatal’, vendida como a primeira “novela original da Max”, que deve estrear em janeiro de 2025. O outro exemplo mais recente ainda é ‘Pedaço de Mim’, que tem sido definida como um “novelão”. A produção se consolidou como um hit mundial após ficar em quinto lugar no top 10 de produções mais vistas da Netflix em língua não inglesa.

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“Acredito que a TV aberta abriu portas para esses investimentos, especialmente a partir do momento em que as emissoras optaram por modelos de contrato por obra que permitiram a muitos profissionais circularem mais livremente pelo mercado”, pontuou Tcharly Briglia, pesquisador na área de teledramaturgia e doutorando em Comunicação na Universidade Federal da Bahia (Ufba), em entrevista ao Cineinsite A TARDE.

Porém, Globo, Record e SBT são parâmetros para o streaming, especialmente em virtude da expertise que essas empresas conquistaram ao longo das últimas décadas, principalmente a Globo

Tcharly Briglia - pesquisador

Ele afirmou não considerar que essas produções tenham impacto negativo para a TV aberta. "Tais obras podem funcionar como uma oxigenação ao gênero, que tem precisado se reinventar. Por serem mais compactas e construídas de modo fechado, podem servir de inspiração e motivação para as emissoras convencionais proporem obras mais originais, criativas, inteligentes e interessantes, diferente do que tem sido apresentado pelos canais. Acredito que o principal impacto será a delimitação de uma saudável disputa entre os players”.

Mestre e doutorando em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Ufba, Genilson Alves vai no sentido contrário. Segundo ele, os impactos já podem ser percebidos na disputa pelo elenco, por exemplo. “Uma vez que esses serviços de TV por streaming buscam profissionais consagrados que se tornaram conhecidos ou alcançaram o estrelato por meio de novelas produzidas pelas emissoras de TV aberta, em especial a Globo”, disse.

Genilson destacou também o novo modelo de contratação da Globo, focado em obras, e não mais em vínculos de exclusividade, que, para ele, também tem contribuído para isso. “Acredito que vamos ver em médio prazo o impacto do modo dessas empresas de produzir novelas nos estilos que as emissoras de TV aberta daqui construíram para si, que não deve mudar significativamente, mas também não vão poder ignorar os modelos dessas empresas dos serviços de streaming se eles se revelarem exitosos”, continuou.

E é novela mesmo?

Juliana Paes e Vladimir Brichta em ‘Pedaço de Mim’
Juliana Paes e Vladimir Brichta em ‘Pedaço de Mim’ | Foto: Divulgação | Netflix

O conceito de novela é até hoje discutido entre estudiosos, mas em linhas gerais, a definição comum é de uma obra de ficção seriada de longa duração organizada e apresentada em capítulos, que têm um alto grau de continuidade — ou seja, os acontecimentos apresentados entre um capítulo e outro se conectam muito fortemente.

Populares desde o seu surgimento, elas se consagraram como uma das maiores fontes de entretenimento dos brasileiros ao longo das décadas. Isso se deve, principalmente, à narrativa bem característica, de fácil entendimento, que se difere de outras narrativas seriadas, e, consequentemente, prende a atenção do público para o qual ela foi pensada. Mas o que realmente difere uma novela feita para a TV aberta para as produzidas por streamings?

“Estamos vivendo um período de adaptação a um novo modo de se fazer novela no país, um movimento já ensaiado pela Globo nos anos 2010, quando a emissora lançou obras mais curtas na faixa das 23h, obtendo grande êxito de audiência, crítica, repercussão e premiações. Duas dessas novelas - ‘O Astro’ e ‘Verdades Secretas’ - ganharam o Emmy Internacional”, explicou Tcharly Briglia.

O especialista seguiu: “‘Com ‘Verdades Secretas II’ e ‘Todas as Flores’, a Globo levou para o streaming um formato compacto, mas distribuído de forma semanal. O que a Netflix e a Max estão fazendo, com produções curtas, como ‘Pedaço de Mim’, e um pouco maiores, como as já anunciadas ‘Dona Beja’ e ‘Beleza Fatal’, me parece mais próximo de uma minissérie. Especialmente porque são obras fechadas, distribuídas de modo semelhante às séries e que não contam com o diálogo com o público, já que são escritas e gravadas antes da sua disponibilização”.

Nesse sentido, ele diz, falta um aspecto fundamental da telenovela brasileira, que é o consumo simultâneo à exibição.

Entendo que eles usam o termo ‘novela’ para causar engajamento entre os consumidores do gênero, tão popular no Brasil. Mas, pessoalmente falando, acho que seria mais prudente usar o termo minissérie ou macrossérie, considerando também o número de capítulos.

Tcharly Briglia - pesquisador
Camila Queiroz como a protagonista Angel em ‘Verdades Secretas II’
Camila Queiroz como a protagonista Angel em ‘Verdades Secretas II’ | Foto: Reprodução | Globoplay

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Outro critério importante na categorização de novelas é a quantidade de capítulos. Sobre isso, Genilson Alves afirmou que é “porque ele nos ajuda a distinguir com clareza, por exemplo, uma novela de uma minissérie, mesmo aquelas mais longas que costumavam ser produzidas na década de 2000”.

“Os capítulos, ou episódios, como no caso de produtos como ‘Pedaço de Mim’, são os fragmentos dessa história que está sendo contada em série. Nosso repertório enquanto consumidores vai nos permitir identificar o tipo de narrativa seriada que estamos consumindo a depender de quão maior ou menor é esse grau de fragmentação da história”, explicou.

Nesse sentido, acredito que a principal diferença de uma novela feita para a TV aberta de uma feita exclusivamente para os serviços de streaming é a natureza aberta da narrativa, ou seja, o fato de ela ser lançada inacabada e ser construída ao longo de sua exibição, o que possibilita à empresa produtora e criadores realizar diversos ajustes no produto final como mudanças no roteiro, na direção e no que mais for sinalizado pelo público.

Genilson Alves - doutorando em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Ufba

Genilson disse, no entanto, não acreditar que seja certo ou errado chamar esses produtos dos serviços de streaming como novela, “eu diria que ainda é cedo demais pra ser categórico quanto a isso, afinal, precisamos ter acesso a essas obras e avaliar o quanto elas se assemelham e se distanciam do que nós, brasileiros, entendemos por novela”.

“O mais importante de tudo isso é sabermos que esses produtos não necessariamente são uma novela por serem apresentados assim pelas empresas, tampouco considerarmos que não podem ser encarados como novelas só por serem produzidas por serviços de streaming.”

Diferenças contratuais

Grazi Massafera caracterizada como Dona Beja, protagonista de novela homônima da HBO Max
Grazi Massafera caracterizada como Dona Beja, protagonista de novela homônima da HBO Max | Foto: Divulgação | HBO

Outro ponto importante nesse cenário são os contratos assinados pelos atores. Prova disso é que ‘Dona Beja’, obra em produção pela HBO, sofre com atrasos e insatisfação de parte de seu elenco, que se irrita com a extensão dos contratos e incertezas em relação ao produto final. A informação foi divulgada pela coluna Play, do O Globo.

De acordo com Tcharly Briglia, pelo que se tem revelado, os serviços de streaming têm feito contratos aparentemente menos vantajosos do ponto de vista da liberdade de trabalho, embora ofereçam, segundo relatos de alguns atores, maiores benefícios financeiros.

“O caso de Dona Beja foi pontual, logo, ainda não é possível saber se foi um problema causado pela produtora responsável ou por conta da falta da experiência da Max com esse tipo de obra audiovisual. É fundamental lembrar que os contratos com a TV aberta também são maiores, em virtude da extensão narrativa das novelas feitas para a TV convencional. Em ambos os casos, o poder das empresas realizadoras define as diretrizes, porém, o fato de haver uma maior organização jurídica, legal e sindical nas emissoras de TV permite que esses contratos sejam um alvo menor de contestações”, detalhou.

Nova tendência

‘Pedaço de Mim’ já está disponível na Netflix
‘Pedaço de Mim’ já está disponível na Netflix | Foto: Divulgação | Netflix

Apostar em produções originais e chamá-las de novelas parece ser uma tendência que vai ganhar cada vez mais força, já que os números têm feito vento soprar a favor, mas, conforme Tcharly, é necessário aguardar a resposta das produções da Max e da Netflix, “especialmente porque essas empresas lidam com modelos de negócios sustentados em assinaturas, o que, a longo prazo, pode não ser vantajoso”.

“Não sabemos até que ponto os custos exorbitantes de uma telenovela serão diluídos em obras curtas e feitas para um público de assinantes. O Globoplay, por exemplo, recuou nesse tipo de investimento prioritário para o streaming. ‘Guerreiros do Sol’, antes anunciada como novela com estreia para 2024, foi adiada para 2025. No vídeo de divulgação exibido na Rio 2C, a obra já foi vendida como ‘série’, ou seja, se até a principal produtora de novelas do país parece estar cautelosa quanto às novidades”, enfatizou.

Com uma visão semelhante à do colega, Genilson Alves cravou: “Qualquer serviço de streaming que deseje construir uma base de consumidores fiéis no Brasil vai precisar ofertar novelas em seu catálogo. [...] No nosso contexto não dá para pensar os serviços de streaming sem as novelas”.

Mas e a TV aberta vai acabar?

José Inocêncio ( Marcos Palmeira ), Maria Santa ( Duda Santos) e José Inocêncio (Humberto Carrão) na primeira fase de 'Renascer'
José Inocêncio ( Marcos Palmeira ), Maria Santa ( Duda Santos) e José Inocêncio (Humberto Carrão) na primeira fase de 'Renascer' | Foto: Divulgação | Globo

Outrora consideradas como um carro-chefe do império global, por exemplo, as novelas na emissora têm enfrentado crises de audiência. 'Renascer', que estampa o horário nobre atual, começou bem no ibope, mas registrou quedas sucessivas nos últimos meses.

Mas para além da questão envolvendo a novela e sua audiência, não tem como cravar se a TV linear vai ou não chegar ao fim. O que se sabe é que a adaptação se faz necessária no cenário atual, dizem os especialistas. “A TV aberta ainda tem muito fôlego, mas está perdendo espaço pela falta de ousadia e de criatividade, decorrentes da crise econômica pós-pandemia e da apatia das emissoras, que, com exceção da Globo, caminham a passos lentos em um cenário de digitalização da sociedade”, pontuou Tcharly Briglia.

Ele salientou que não é de hoje que a internet e outras telas têm conquistado a atenção da sociedade, ampliando as possibilidades de criação, produção, distribuição e consumo. “De todo modo, uma emissora aberta cuja programação seja sustentada em um bom jornalismo, nas grandes transmissões ao vivo (especialmente esporte e shows) e nas produções ficcionais seriadas, como novelas e séries, ainda terá muito tempo de penetração na sociedade brasileira”.

Outras mídias, mais antigas, estão aí firmes e fortes. A palavra me parece ser ‘reinvenção’. Os profissionais brasileiros são altamente criativos e saberão (se quiserem e se as empresas permitirem) adaptar a TV aberta ao contexto contemporâneo de constantes transformações.

Tcharly Briglia - pesquisador

De dentro das telinhas

O Cineinsite A TARDE também conversou com uma das categorias que está diretamente ligada com essa dinâmica da TV aberta com o streaming. Atriz consagrada na televisão brasileira, Malu Mader foi categórica ao afirmar que vê de forma positiva a influência do streaming na TV e no cinema.

“Acho que quanto mais se produz ficção e documentários também, nada impede para nós atores e para todo mundo que trabalha no mundo do audiovisual e para o público”, afirmou a atriz.

Embora reconheça que o streaming possa diminuir a audiência da TV aberta, Malu vê isso como parte natural da evolução das coisas. “É a vida, as coisas vão mudando, né?” comentou. Por outro lado, a atriz também destacou a diversidade e a acessibilidade proporcionadas pelo streaming. Para ela, a vasta oferta de conteúdos permite que cada pessoa encontre algo que realmente goste, a qualquer momento.

Já a atriz Emanuelle Araújo evidenciou o crescimento dos streamings e que as coisas não acabam, mas se ressignificam. “Não acho que o streaming vai tomar conta do mercado e a televisão vai acabar. Nem acho que a televisão vai continuar sendo supremacia. Eu acho que está todo mundo encontrando uma nova forma de trabalhar e se potencializar”.

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Procuradas pelo Cineinsite A TARDE, a Netflix e a Max disseram não ter porta-vozes para falar sobre o assunto no momento. Já o Prime Video afirmou que não tem novelas originais no seu radar, por enquanto.

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