PEDIDO DE JUSTIÇA
Seis meses após perder braço, jovem luta por reparação: 'Justiça'
Andrei Peroba teve braço direito amputado após acidente em parque de diversões instalado em Salvador
Por Luan Julião
Há seis meses, no dia 15 de fevereiro, a vida do jovem Andrei Peroba, de 20 anos, mudou completamente. Naquele dia, durante um momento de lazer, seu braço direito foi atingido por um brinquedo em um parque de diversões instalado na Arena Pronaica, no bairro de Cajazeiras, em Salvador.
Andrei estava acompanhado de sua irmã, de 17 anos, e de sua prima, de 9, quando, durante uma brincadeira, seu braço ficou preso nas ferragens do "Intoxx", uma das atrações mais populares do local.
Como consequência, o jovem sofreu uma fratura exposta e precisou ser levado com urgência ao Hospital Geral do Estado (HGE). Ele teve o braço amputado e precisou ficar internado por mais de um mês.
Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, Andrei relatou que, apesar das dificuldades enfrentadas após a perda de um braço, como escrever e até mesmo trabalhar, ele tem se esforçado para estudar e aprender. O jovem, que está atualmente no terceiro ano do ensino médio, também mencionou que nunca foi procurado ou recebeu ajuda dos proprietários do empreendimento responsável pelo acidente.
"Nada. Nem um remédio, nada. Nem um fardo de arroz ou um pacote de macarrão para você comer. Nem isso. Como o braço não volta mais, né? Já foi, não tem mais o que fazer. O mínimo que eu tenho é pedir justiça e que seja feita", disse.
Andrei também desabafou e disse que o acidente tornou até o ato de dormir difícil. Disse ainda que frustrou uma das coisas que mais gostava de fazer: jogar futebol.
"Até para dormir é difícil. Todo mundo tem dois braços, perder um dificulta muito, não tem como dormir direito. Até o que eu mais gostava de fazer, que era jogar bola, e tinha o sonho de ser jogador, eu não consigo mais", relatou.
O jovem abriu seu coração, pedindo justiça, mas tem dúvidas se os responsáveis serão responsabilizados e se mostra bastante revoltado com a demora pela resolução do seu caso.
"Eu peço que os principais responsáveis paguem, para que pelo menos me deem uma esperança, para tentar me adaptar à minha nova fase", diz Andrei.
"Eu realmente estou precisando. Minha casa está molhando. Tem a prótese também; tomara que venha, mas será que vem? É sempre essa demora. Às vezes, nem dá mais vontade de viver", completou.
Justiça
O advogado do jovem, Bruno Moura, também conversou com a reportagem do Portal A Tarde e relatou que Andrei vem tentando retomar sua vida com normalidade, mas que perder o braço no acidente foi um momento que deixou marcas.
“É um jovem que tenta restabelecer sua vida como era antes, mas a perda de um membro é sempre muito traumática. O jovem Andrei, infelizmente, encontra-se substancialmente traumatizado pelo ocorrido", disse.
"O Parque de Diversões, em nenhum momento, fez contato, seja com Andrei, seja com a família de Andrei ou com o advogado de Andrei. Infelizmente, as pessoas tentaram, até onde puderam, se esquivar desse processo, se esquivar da justiça e se esquivar daquilo que fizeram. Mas conseguimos chegar ao concreto, conseguimos localizar os responsáveis”, completou.
Bruno também apontou ilegalidades no equipamento que acidentou o jovem Andrei e explicou o andamento do processo.
"O laudo pericial aponta todas as ilegalidades no equipamento. Havia dois botões de pausa de emergência, mas nenhum deles estava funcionando. O parque também não contava com manual de funcionamento e não realizava manutenção há meses, ou melhor, há anos. Nós já conseguimos identificar tanto o dono do brinquedo quanto o dono do parque. Ambos moram na cidade de Feira de Santana. Podemos assegurar que já há um processo cível em trâmite e que o inquérito policial, que é a investigação da polícia civil, já foi concluído. Com toda certeza, os responsáveis irão responder pelos crimes cometidos", diz o advogado.
Na tentativa de que o jovem consiga seguir sua vida com um mínimo de normalidade, o advogado esclareceu que um dos pedidos colocados no processo é uma prótese mecânica , que possibilitará mais facilidade nas demandas diárias de um jovem da idade dele.
“O que posso adiantar para vocês é que este é um processo que corre sob segredo de justiça, por envolver uma menor, que é a irmã de Andrei. Estamos solicitando a prótese, um braço mecânico, pois, como todos sabem, Andrei perdeu o braço, perdeu o membro por completo. Ele precisa restabelecer sua vida e voltar a ter uma vida normal para um jovem de 20 anos, que é a idade dele. Portanto, um dos pedidos desse processo é a prótese mecânica”, disse.
"Agora, na parte criminal, o senhor mencionou que tanto o proprietário quanto o dono do parque foram indiciados, ou melhor, estão sendo investigados. Já houve uma conclusão dessa investigação, e eles serão indiciados no processo. A delegada responsável por esse caso, a delegada da 13ª Delegacia, que é a Delegacia de Cajazeiras, doutora Quitéria, me garantiu, há cerca de 10 a 15 dias, que o inquérito policial estava sendo concluído através do relatório final, que é a peça que encerra o inquérito, e que os responsáveis seriam indiciados pelo crime de lesão corporal gravíssima”, completou.
O Portal A Tarde entrou em contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur), que emitiu a licença de funcionamento do parque. Através de nota, a pasta destacou que a emissão de licença se deu de acordo com a lesgislação.
"A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) informa que a emissão de licença de parques de diversões, de acordo com a legislação vigente, é condicionada à apresentação de um laudo de vistoria técnica dos equipamentos, realizado por um responsável habilitado com Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) válida, e do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) que foram apresentados na ocasião. O documento foi emitido pela Central Integrada de Licenciamento de Eventos (CLE)".
A reportagem também tentou falar com os proprietários do parque e do brinquedo onde ocorreu o incidente, mas não obteve contato.
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