
Por Victoria Isabel
O ano de 2025 foi marcado por uma sequência de crimes violentos que chocaram a Bahia e repercutiram nacionalmente. Mortes brutais, execuções, sequestros e vítimas atingidas por balas perdidas expuseram a gravidade da violência no estado. Embora parte dos casos tenha avançado nas investigações, outros seguem sem desfecho, mantendo a sensação de indignação e insegurança entre a população.
Triplo homicídio em Ilhéus
Um dos casos mais emblemáticos de 2025 foi o triplo homicídio ocorrido em Ilhéus, no sul do estado, em agosto. Inicialmente tratado como desaparecimento, o caso ganhou contornos trágicos quando os corpos de Alexandra Oliveira Suzart, de 45 anos, Maria Helena do Nascimento Bastos, de 41, e Mariana Bastos da Silva, de 20, foram encontrados em uma área de mata na Praia dos Milionários.
Os corpos das vítimas estavam em uma região entre a Associação dos Funcionários da Ceplac (AFC) e a Atlética Banco do Brasil (AABB), na zona sul da cidade. Alexandra e Maria Helena eram professoras da rede municipal de ensino, amigas e vizinhas. Mariana era filha de Maria Helena. As três haviam saído juntas para passear na Praia dos Milionários no dia do desaparecimento.

Após meses de investigações, em novembro, o caso parecia ter chegado ao fim quando Thierry Lima da Silva, de 23 anos, foi preso em flagrante no bairro do Pontal, em Ilhéus, acusado de tráfico de drogas. Durante a abordagem e em depoimento posterior, ele confessou participação em quatro homicídios, incluindo o triplo assassinato ocorrido em agosto.

Segundo o investigado, ele utilizou uma faca para atacar as vítimas e enterrou a arma nas proximidades do local onde os corpos foram encontrados. Apesar de relatar detalhes da suposta tentativa de roubo que teria resultado nos assassinatos, Thierry apresentou contradições durante o interrogatório. Além disso, laudos periciais não identificaram material genético dele nas vítimas.
Peritos ressaltaram, no entanto, que a ausência de vestígios genéticos não descarta sua participação no crime. Contudo, quando o caso completou três meses, a Polícia Civil da Bahia solicitou mais 30 dias para concluir as investigações, que já haviam sido prorrogadas anteriormente, em setembro.
Sequestro do presidente do Partido Verde na Bahia
O sequestro do presidente estadual do Partido Verde (PV) na Bahia, Ivanilson Gomes, foi um dos casos de maior repercussão política e policial de 2025 no estado. O crime ocorreu em março, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, quando homens armados invadiram a sede do partido e levaram o dirigente à força.
Após o sequestro, Ivanilson foi mantido em cativeiro e os criminosos passaram a entrar em contato com familiares para exigir o pagamento de resgate. A esposa do presidente do PV recebeu mensagens e chegou a ter acesso a imagens que mostravam o marido sob poder dos sequestradores, o que aumentou a tensão em torno do caso.

As investigações revelaram, posteriormente, um desdobramento ainda mais grave: o secretário estadual da Juventude do PV, Gabriel Luis, aliado de Ivanilson Gomes, confessou participação no crime. Segundo informações apuradas pelo Portal A TARDE com fontes policiais, Gabriel teria agido “sob pressão” de traficantes do bairro do Nordeste de Amaralina, ligados ao Comando Vermelho (CV).
Após um dia em poder dos sequestradores, a liberação de Ivanilson Gomes foi confirmada. A confirmação foi feita pelo vereador André Fraga, também do PV, que informou que o dirigente estava em segurança e agradeceu o trabalho da Delegacia Antissequestro (DAS), da DEIC e da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).

As investigações avançaram rapidamente após a libertação. Três suspeitos de envolvimento direto no sequestro foram presos em Salvador, sendo um deles localizado na Ilha de Itaparica e outros dois detidos no bairro da Ribeira. Além disso, um jovem de 25 anos apontado como integrante da quadrilha foi capturado em Alagoinhas, em ação da Delegacia Antissequestro.
Caso Ana Luiza - Jovem morta por bala perdida na Engomadeira
A morte da jovem Ana Luíza Silva dos Santos, de 19 anos, no bairro da Engomadeira, em Salvador, provocou revolta, protestos e forte repercussão social. Ela foi baleada na tarde de 13 de abril, durante uma operação policial realizada por agentes da 23ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM).
De acordo com as polícias Civil e Militar, os agentes realizavam rondas na Rua Nanan, no final de linha do bairro, quando teriam sido recebidos a tiros por homens armados. Durante a perseguição, os suspeitos fugiram por becos da região. Na versão dos policiais, os agentes localizaram Ana Luíza caída já no chão, ferida por disparo de arma de fogo, e prestaram socorro. A jovem foi levada ao Hospital Geral Roberto Santos, mas não resistiu aos ferimentos.

A morte gerou protestos imediatos na Engomadeira. Moradores fecharam vias de acesso ao bairro, e no dia seguinte a circulação de ônibus foi suspensa. Bombas de gás lacrimogêneo foram usadas para dispersar manifestantes.
Contudo, as investigações do Ministério Público da Bahia apontaram que Ana Luíza foi atingida com um tiro pelas costas, enquanto policiais atiravam contra um homem desarmado, em fuga, dentro de um beco. Três policiais militares do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO) da 23ª CIPM foram denunciados por homicídio qualificado.
Segundo o MP-BA, o crime foi cometido por motivo torpe, com uso de meio que resultou em perigo comum e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O órgão solicitou em outubro a prisão preventiva dos acusados.
Dentista vítima de bala perdida na Avenida Paralela
Outro crime que causou forte comoção ocorreu em março, quando a cirurgiã-dentista Larissa Azevedo Pinheiro, de 28 anos, foi atingida por uma bala perdida durante uma troca de tiros entre policiais militares e criminosos na Avenida Paralela, uma das vias mais movimentadas de Salvador.
Segundo a Polícia Militar, o confronto começou após agentes identificarem um veículo com placa clonada e iniciarem uma perseguição. Durante a ação, houve troca de tiros e um dos suspeitos foi baleado. Larissa estava na garupa de um mototaxista, a caminho do trabalho, quando o tiroteio teve início. Ela acabou sendo atingida por um disparo que perfurou seu pulmão.

A dentista foi socorrida em estado grave e encaminhada ao Hospital Geral Roberto Santos, onde precisou ser reanimada e passou por cirurgia de emergência. Ela ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mobilizou uma ampla campanha de doação de sangue. Após uma semana de internação, Larissa não resistiu aos ferimentos e morreu.
Dias depois, um homem apontado como o terceiro envolvido no confronto foi preso no município de Buerarema, no sul da Bahia. Ele foi identificado como Emerson Conceição dos Santos, que possuía dois mandados de prisão em aberto. Outros dois homens que estavam com ele também foram detidos. Durante a abordagem, a polícia apreendeu uma arma de fogo e celulares. Um quarto suspeito segue foragido.
Sequestro da nutricionista em Salvador
Em novembro de 2025, o sequestro da nutricionista Tâmara Ferreira, de 42 anos, gerou grande repercussão em Salvador. Ela desapareceu na noite de quinta-feira, 6, após sair para um evento e foi vista pela última vez deixando o edifício Mundo Plaza, no bairro Caminho das Árvores.
Tâmara foi localizada com vida, na manhã de sexta-feira, 7, apresentando diversos hematomas e lesões, resultado das agressões sofridas durante o período em que permaneceu em cativeiro.
Em depoimento, Tâmara relatou que foi abordada ao sair do carro na Praça Ana Lúcia Magalhães, quando homem a forçou a retornar ao veículo. Em seguida, foi levada para a parte de trás do Shopping Itaigara, onde os criminosos exigiram transferências bancárias. Por conta do horário, os valores não puderam ser elevados.

Ainda segundo a vítima, ela foi levada posteriormente para outro local, possivelmente um posto de gasolina, onde foi transferida para um segundo carro. De lá, seguiu para uma área de mata, onde passou a noite sob ameaças constantes.
Deram coronhadas na minha cabeça e na perna, disseram que iam cortar meu dedo e arrancar minha unha. Foi um terror psicológico e físico
Na manhã seguinte, após a realização das transferências bancárias, a nutricionista foi libertada. Ela foi levada de moto até um supermercado, onde conseguiu pedir ajuda.

A Polícia Civil deflagrou a Operação Nutriente, que resultou inicialmente na prisão de dois homens, de 21 e 33 anos. Em novas fases da operação, outros suspeitos foram capturados, totalizando seis presos, além da apreensão de motocicletas usadas no crime. Todos permanecem à disposição da Justiça.
Execução de jovem com 70 tiros apósemboscada
Um dos crimes mais chocantes de 2025 foi a execução do jovem Yago Vinícius Santana de Souza, de 18 anos, ocorrida na manhã de 1º de dezembro, na entrada do bairro de Santa Cruz, em Salvador. A violência do ataque causou forte comoção: moradores relataram ter ouvido mais de 70 disparos, e projéteis ficaram espalhados pela pista. O rosto da vítima ficou completamente deformado em razão dos tiros.

As investigações apontam que Yago foi alvo de uma emboscada. Conforme apuração do Portal A TARDE, o jovem teria sido atraído para uma festa do tipo paredão por uma mulher que conheceu recentemente. O evento acontecia dentro do Complexo do Nordeste de Amaralina, quando ele foi cercado por criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV).
No local, os suspeitos teriam revistado o celular da vítima, analisando conversas, fotos e possíveis vínculos. Após a verificação, Yago foi “sentenciado” pela facção e executado em via pública, em um crime marcado pela extrema brutalidade.

Triplo homicídio de técnicos de internet
O crime de grande repercussão mais recente foi o assassinato de três técnicos de internet, executados após serem torturados na última terça-feira, 16, no bairro do Alto do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. A extrema violência do caso causou comoção e chocou a população à medida que novos detalhes sobre o crime vieram a público.
As vítimas foram identificadas como Ricardo Antônio da Silva Souza, de 44 anos, Jackson Santos Macedo, de 41, e Patrick Vinícius dos Santos Horta, de 28.
Inicialmente, a principal linha de investigação indicava que os trabalhadores teriam sido mortos por integrantes do Comando Vermelho (CV) devido à falta de pagamento de taxas impostas à empresa para a qual trabalhavam.

De acordo com representantes do setor de telecomunicações, o CV teria implantado em Salvador e na Região Metropolitana um esquema semelhante ao existente no Rio de Janeiro, com cobrança de taxas sobre serviços de internet. A facção exigiria R$ 15 por cliente atendido mensalmente, além de 40% do lucro anual das empresas que atuam em áreas sob seu domínio.
No entanto, com o avanço das investigações, a polícia passou a apontar como principal hipótese para a motivação do crime uma possível retaliação de um grupo criminoso com atuação no bairro de Marechal Rondon, que teria interpretado a presença dos operários como tentativa de instalação de câmeras de vigilância.

O crime gerou protestos de trabalhadores do setor, que realizaram uma manifestação em frente à Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Em resposta, a SSP informou que a identificação e prisão dos autores era prioridade absoluta e reforçou as ações policiais na região.
Suspeitos localizados
Dois suspeitos de envolvimento no triplo homicídio foram localizados neste domingo, 21, durante a Operação Signum Fractum, deflagrada pela Polícia Civil. Um dos investigados morreu durante a ação.
Segundo a corporação, um dos alvos teve o mandado de prisão cumprido no bairro de São Marcos. Já o outro suspeito, Jeferson Caíque Nunes dos Santos, conhecido como “Badalo”, reagiu à abordagem policial no bairro de Massaranduba, efetuando disparos contra as equipes. Houve confronto, ele foi baleado e socorrido para uma unidade de saúde, mas não resistiu aos ferimentos..
De acordo com a Polícia Civil, Jeferson Caíque era apontado como um dos responsáveis diretos pela execução dos três trabalhadores. As ações da operação ocorreram nos bairros de Marechal Rondon, São Marcos, Campinas de Pirajá e Massaranduba.
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