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23/12/2023 às 6:00 • Atualizada em 26/12/2023 às 11:26 - há XX semanas | Autor: Flávia Requião e Lucas Franco

PROTESTOS RADICAIS

Volta de Lula à tentativa de golpe; O 2023 na política nacional

Chegada de Lula no poder, atos com invasão em Brasília e inelegibilidade de Bolsonaro foram destaques do ano

Bolsonaristas invadindo os três poderes após posse de Lula
Bolsonaristas invadindo os três poderes após posse de Lula -

Após muito receio por parte da direita, o presidente Lula tomou posse do Brasil. Do outro lado, a negação da oposição foi tanta que, em protestos radicais, invadiram e destruíram a praça dos três poderes em Brasília.

A repercussão do ato golpista respingou durante o ano todo, através de investigações e prisões. E o lado de lá não parou de ferver, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado e acabou se tornando inelegível por oito anos e também enfrenta uma investigação por recebimento de joias ilegais no Brasil.

Todos esses processos afetaram a política do país, confira o que movimentou o ano na retrospectiva da política nacional em 2023 do Portal A TARDE.

Janeiro

O ano começou com a troca de governo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa contra Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Com um paletó azul e ao lado da sua esposa Janja, Lula e Geraldo Alckmin (PSB) foram empossados como presidente e vice-presidente do Brasil, respectivamente, durante sessão solene no primeiro dia do ano, no Congresso Nacional, em Brasília (DF).

Lula e Janja após assumir o governo brasileiro
Lula e Janja após assumir o governo brasileiro | Foto: EVARISTO SA / AFP

Durante o discurso de posse do seu terceiro mandato, Lula criticou Bolsonaro e prometeu um governo de esperança, com combate à fome, defesa da democracia, retomada dos programas sociais e compromisso com a Constituição. Além disso, o petista se comprometeu com o crescimento econômico com responsabilidade fiscal e definiu como meta do Governo o desmatamento zero na Amazônia.

Junto à chegada de Lula, os 37 novos nomes para os ministérios escolhidos começaram a tomar posse.

Sete dias após Lula entrar no poder, no dia 8 de janeiro, a sede dos Três Poderes em Brasília foi invadida por apoiadores radicais do ex-presidente Bolsonaro, inconformados com o resultado das eleições, ocasionando em atos de vandalismo e prisões. Mais de 3000 pessoas furaram o bloqueio e quebraram vidraças, móveis, obras de artes,objetivos históricos, invadiram gabinetes de autoridades, rasgaram documentos e roubaram armas.

Rebelião durante atos do 8 de janeiro
Rebelião durante atos do 8 de janeiro | Foto: Sergio Lima / AFP

Com a tentativa de golpe, o presidente Lula decretou intervenção federal na segurança do DF, o governador Ibaneis Rocha foi afastado e o Secretário de Segurança Pública do DF, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres foi acusado de omissão, sendo exonerado e preso.

Lula também demitiu o comandante do Exército e exonerou o então ministro do GSI, Gonçalves Dias. Com a repercussão, foi instaurado uma CPI para investigar a invasão que resultou no indiciamento de 61 pessoas. Até dezembro, 30 pessoas foram condenadas.

Durante todos esses acontecimentos, o ex-presidente esteve nos Estados Unidos onde ficou por três meses.

No final do mês, a morte por desnutrição de uma criança da etnia yanomami fez o Brasil inteiro voltar os olhos para Roraima, onde o povo indigena vive em estado de crise humanitária, causada pelo garimpo ilegal. O Ministério da Saúde decretou situação de emergência e acusou o governo Bolsonaro de ser "omisso" em relação à saúde aos yanomami.

Povo indigena que vive em Roraima
Povo indigena que vive em Roraima | Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

Fevereiro

A abertura do ano legislativo começou com a posse dos parlamentares eleitos em outubro de 2022, além disso, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal elegeram Arthur Lira (PP) e Rodrigo Pacheco (PSD) como respectivos presidentes para os próximos dois anos.

Tomam posse, em Brasília, os 513 parlamentares da Câmara dos Deputados
Tomam posse, em Brasília, os 513 parlamentares da Câmara dos Deputados | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Já as investigações sobre o 8 de janeiro, ganharam mais um capítulo. O senador Marcos do Val (Podemos) declarou em uma transmissão ao vivo que o ex-presidente Jair Bolsonaro o teria o coagido a participar de um plano que resultaria em um suposto golpe de Estado.

Marcos do Val durante a coletiva de imprensa
Marcos do Val durante a coletiva de imprensa | Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Posteriormente o senador, afirmou que o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB) o levou a reunião com Bolsonaro e segundo o seu relato, a ideia de Silveira incluía gravar o ministro Alexandre de Moraes em busca de declarações comprometedoras do magistrado.

Após a live, Do Val foi acusado de ter dado várias versões sobre o caso através de transmissões e entrevistas, gerando certa desconfiança. Com isso, Moraes mandou apurar atos do parlamentar que incluíam acusações contra o ministro. Houve apuração de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo.

Ainda sobre a tentativa de golpe, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a soltura de 173 pessoas que foram presas por causa dos atos golpistas de 8 de janeiro, ele puderam voltar para suas cidades natais, mas monitorados por tornozeleira eletrônica. e tiveram que cumprir uma série de medidas cautelares.

No 10º dia do mês, o presidente Lula e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontraram na Casa Branca, residência oficial do governo norte-americano em Washington, e fizeram uma defesa da democracia.

Lula e Joe Biden durante encontro em Washington
Lula e Joe Biden durante encontro em Washington | Foto: Alex Brandon/AFP

Assim como Lula, Biden também viveu ataques de oposicionistas às sedes de poderes da República, em ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Biden reafirmou apoio à democracia brasileira.

De volta ao Brasil, um dos momentos mais aguardados pelos eleitores de Lula foi a retomada do programa Minha Casa Minha Vida, Lula assinou a Medida Provisória (MP) durante um evento de entrega de 684 moradias em Santo Amaro, na Bahia.

Lula durante a entrega do Minha Casa Minha vida na Bahia
Lula durante a entrega do Minha Casa Minha vida na Bahia | Foto: Ricardo Stuckert/PR

O programa, criado em 2009, tinha deixado de existir em 2020 no governo Bolsonaro. Na ocasião, a iniciativa passou a se chamar Casa Verde e Amarela, sofrendo alterações em diversos critérios.

Março

Ainda sem a presença de Bolsonaro no país, a notícia de que o ex-presidente teria tentado entrar ilegalmente no Brasil com R$ 16,5 milhões em joias estourou logo no início do mês. Com a notícias, a Polícia Federal decidiu abrir um inquérito para apurar os objetivos recebidos pelo governo.

Joias que foram presenteadas a Michelle Bolsonaro, à esquerda, e uma escultura (à direita) que Jair Bolsonaro tentou trazer ao país ilegalmente
Joias que foram presenteadas a Michelle Bolsonaro, à esquerda, e uma escultura (à direita) que Jair Bolsonaro tentou trazer ao país ilegalmente | Foto: Twitter/@@Pimenta13Br

Um colar, anel, relógio e uma marca de brincos de diamantes foram entregues à comitiva brasileira em outubro de 2021, quando uma equipe do ex-presidente fez viagem oficial para a Arábia Saudita.

Dias após estourar a polêmica sobre a possível ilegalidade, a esposa do ex-presidente Michelle Bolsonaro assumiu, sem a presença do marido, a presidência do PSL Mulher. O evento foi visto como o “lançamento” da ex-primeira-dama na política.

Sobre as ações sociais no Brasil, o governo Lula relançou o programa Mais Médicos, criado em 2013 para ampliar o número de profissionais de saúde em áreas de baixo desenvolvimento econômico e no interior do país.

Já com o novo cargo, a ex-presidente da República Dilma Rousseff foi eleita para a presidência do Novo Banco do Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics. Ao longo do mês, a petista foi sabatinada pelas autoridades estrangeiras, depois que o NDB comunicou o início da troca de comando. Ela substitui o diplomata e economista Marcos Troyjo, ex-integrante da equipe do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

De volta a oposição, meses com o Brasil pegando fogo, Bolsonaro volta ao país após longa temporada nos EUA. Ele saiu por uma rota reservada do Aeroporto de Brasília e seguiu, em comboio escoltado pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

Abril

Cem dias depois da posse presidencial, o destaque de Lula é, principalmente, na retomada de programas sociais. Apesar disso, a pesquisa Atlas Intel revelou que a desaprovação pessoal ao presidente avançou entre janeiro e abril, embora a taxa de aprovação ainda seja superior. O índice dos que desaprovam passou de 42% para 44%, enquanto os que aprovam foi de 51% para 50%.

Reforçando o aumento da desaprovação, Lula acabou sendo alvo de polêmica após falas consideradas capacitistas. Durante uma reunião em Brasília com ministros e governadores, para tratar de ações para prevenir a violência nas escolas, o mandatário disse que pessoas que possuem problemas mentais têm “desequilíbrio de parafuso”. A frase não pegou bem e mais tarde ele acabou pedindo desculpas.

Voltando a programação de viagens, o presidente embarcou em viagem oficial à China, com grande agenda econômica e participação no evento de posse de Dilma no Brics. No âmbito geopolítico, Lula falou sobre um possível acordo de paz para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Lula coom o presidente da China, Xi Jinping durante encontro em Pequim
Lula coom o presidente da China, Xi Jinping durante encontro em Pequim | Foto: Ricardo Stuckert / PR

Em pós-viagem, o governo federal entregou ao Congresso Nacional a proposta completa para o novo arcabouço fiscal, com o intuito de substituir o teto de gastos.

Maio

Próximo à volta de Bolsonaro, o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente foi preso pela PF, que também realizou busca e apreensão em um endereço ligado ao ex-mandatário no Jardim Botânico, em Brasília.

Bolsonaro e Mauro Cid
Bolsonaro e Mauro Cid | Foto: Alan Santos I PR I Divulgação

Cid está envolvido em polêmicas com o youtuber Allan dos Santos, investigado por disseminação de notícias falsas e atos antidemocráticos, com o caso das joias sauditas e até suposto pivô da demissão de um general do presidente Lula.

Ainda sobre aliados de Bolsonaro, o ex-procurador da República Deltan Dallagnol (Podemos) teve o mandato de deputado federal cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base na Lei da Ficha Limpa. A decisão dos ministros foi unânime.

Nas medidas focadas para os brasileiros, um dos principais temas debatidos na Câmara dos Deputados foi o projeto de lei que estabelece o marco temporal que foi aprovado com 83 votos favoráveis ao projeto e 155 contrários.

Junho

A saga com Dallagnol evoluiu e a Mesa Diretora da Câmara confirmou a cassação do deputado por tentativa de burlar a Lei da Ficha Limpa nas eleições do ano passado.

Famoso pela Lava Jato, Dallagnol perdeu seu mandanto no Congresso
Famoso pela Lava Jato, Dallagnol perdeu seu mandanto no Congresso | Foto: Lula Marques | Agência Brasil

O ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly assumiu a vaga do parlamentar cassado. A decisão foi após a votação de um recurso do Podemos no Supremo. No plenário virtual, seis ministros entenderam que a vaga deveria ficar com Hauly, formando a maioria necessária para aprovação do recurso.

Com o caso próximo, Bolsonaro também foi alvo do TSE, que condenou o ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Com a decisão, a Corte declarou ele inelegível por oito anos, até 2030.

Bolsonaro foi condenado pela realização de uma reunião com embaixadores estrangeiros, no Palácio da Alvorada, na qual difamou o sistema eleitoral brasileiro. O encontro, ocorrido em julho de 2022, foi transmitido pela TV oficial do governo.

O ex-presidente recebeu a maioria dos votos no plenário
O ex-presidente recebeu a maioria dos votos no plenário | Foto: Evaristo Sá/AFP

O assunto do Val também voltou a repercutir com a Polícia Federal pedindo a prisão de sua prisão durante operação que fez buscas em endereços ligados ao senador, mas o pedido foi negado pelo STF, que autorizou apenas a realização de buscas e apreensão. Marcos esta sendo investigado por obstruir investigações sobre os atos golpistas do 8 de janeiro.

Sobre o STF, o Senado aprovou o nome de Cristiano Zanin para ocupar a vaga aberta, a 11ª cadeira, com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski. Zanin, que foi indicado pelo presidente Lula, teve 58 votos a 18.

Votação ocorreu logo após sabatina na CCJ
Votação ocorreu logo após sabatina na CCJ | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

No Senado, com 57 votos favoráveis e 17 contrários, o plenário aprovou o relatório do senador Omar Aziz (PSD) do novo arcabouço fiscal. O texto substitui o atual teto de gastos e cria novas regras com limites para as despesas da União.

Julho

Assim como no ano anterior, Luiz Inácio Lula da Silva marcou presença no tradicional cortejo do 2 de Julho, data de independência do Brasil na Bahia que completou duzentos anos este ano.

Junto com a primeira-dama, Janja, o presidente da República saudou o público na Lapinha, mas não deu coletiva de imprensa. Se limitou a fazer declarações sobre a importância da celebração.

As perguntas dos jornalistas seriam muitas na ocasião, já que crescia a pressão do Centrão por cargos no governo, além do imbróglio que envolveu a então ministra do Turismo, Daniela Carneiro.

Indicação do União Brasil para a pasta, Daniela passou a ser rejeitada em seu partido após, junto com outros cinco quadros, pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para se desfiliar do partido sem perder o mandato. O motivo que levou a ministra e os outros deputados a pedirem a desfiliação sem perder o mandato foi "assédio político" por parte da direção.

Naquele mês, Daniela deixou o governo e voltou a ser deputada, cargo em que estava licenciada. No seu lugar, entrou o também deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA).

A primeira mudança de ministro, quem diria, não aconteceu por troca de favores com legendas do Centrão, mas por conta de uma briga interna em uma legenda que sequer aderiu em peso ao governo.

Um outro desligamento na política aconteceu no partido de Jair Bolsonaro. Após posar em foto com ministros fazendo, com as mãos, o gesto que remete a Lula, o deputado federal Yury do Paredão foi expulso do PL.

Deputado do PL posa fazendo L ao lado de ministros do governo Lula
Deputado do PL posa fazendo L ao lado de ministros do governo Lula | Foto: Reprodução I Redes Sociais

O presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, justificou a exclusão pelo fato de o parlamentar "não comungar dos ideais de nossa legenda". Yuri continuou na Câmara e meses depois se filiou ao MDB, que compõe a base do governo Lula.

A primeira nomeação no STF aconteceu em julho: Cristiano Zanin é nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Passou a ocupar a cadeira deixada por Ricardo Lewandowski no mês seguinte.

Agosto

Estado que nos últimos anos têm ganhado destaque nacional por estar na fronteira com a Venezuela, abrigando dessa forma muitos venezuelanos, Roraima teve seu governador cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) em agosto.

O motivo que levou Antonio Denarium (PP) a ser cassado foi a distribuição de cestas básicas em 2022, durante o período eleitoral. No entanto, o chefe do Executivo Estadual continuou e deverá continuar no cargo até que se esgotem todos os recursos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) irá analisar o caso.

Um outro governador que chamou muito a atenção em agosto foi Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo. Informações de que ele não estaria satisfeito em seu partido vazaram e a legenda de Jair Bolsonaro logo se mostrou de braços abertos para acolhê-lo. O motivo da insatisfação seria a aproximação de parte do Republicanos com o governo Lula. No entanto, Tarcísio se manteve no partido.

Também governador, também alinhado com o bolsonarismo e também nos holofotes nacionais em agosto, Zema (Novo), de Minas Gerais, foi acusado de xenofobia ao defender um consórcio de chefes do Executivo Estadual do Sul e Sudeste. Em sua defesa, o mineiro alegou que as duas regiões representam 70% da economia brasileira e que por isso reivindicam protagonismo político. Mesmo políticos de direita se posicionaram contra Zema na ocasião, a exemplo do ex-ministro bolsonarista Gilson Machado (PL-PE), do ex-deputado federal Capitão Wagner (União Brasil-CE) e da governadora de Pernambuco Raquel Lyra (PSDB).

Zema foi criticado inclusive por políticos de direita
Zema foi criticado inclusive por políticos de direita | Foto: Arquivo Pessoal

Alvo de diversas críticas de bolsonaristas, Alexandre de Moraes mandou soltar 90 presos que estavam envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), os acusados não representam mais riscos às investigações. Os acusados são réus nos processos oriundos da investigação e respondem pelos crimes de associação criminosa, abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e crime contra o patrimônio público tombado.

Setembro

Também foi na instância máxima do Poder Judiciário que aconteceu um dos maiores embates entre a Corte e o Congresso, que envolveu o posicionamento de cada Poder sobre o Marco Temporal das Terras Indígenas. Se a Câmara aprovou o texto em maio, o STF interviu no assunto para julgar a constitucionalidade da proposta. O assunto rendeu até o final do ano e organizações indígenas reforçam que seus territórios têm sofrido ameaças de grupos que buscam extração mineral ilegal.

Manifestação de indígenas contra o Marco Temporal, na Esplanada dos Ministérios
Manifestação de indígenas contra o Marco Temporal, na Esplanada dos Ministérios | Foto: Antônio Cruz I Agência Brasil

Se nenhuma troca de ministros foi feita em todo o primeiro semestre, entre julho e setembro três chefes de pasta deixaram o governo: além de Daniela Carneiro em julho, que cedeu seu lugar a Celso Sabino no Turismo, em setembro Ana Moser deixou os Esportes para o lugar de André Fucuca (PP-MA) e Márcio França deixou Portos e Aeroportos para que Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) assumisse em seu lugar.

Se Ana Moser, que até então nunca havia feito parte da política institucional, saiu definitivamente do governo, Márcio França assumiu outra pasta, que foi criada com a minirreforma ministerial, que se chama Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

As trocas em setembro, diferentemente da primeira, envolveram as saídas de uma chefe de pasta de grande apelo popular e de um aliado do governo para a entrada de indicações do Centrão.

No final de setembro, Lula foi submetido a uma cirurgia no quadril que o deixou quase todo o mês de outubro despachando da residência oficial, sem sair de casa.

Outubro

No dia seguinte da aprovação do Senado, Lula sancionou o Desenrola Brasil, em 3 de outubro. O programa de renegociação de dívidas do Governo Federal inicialmente duraria até o final do ano, mas em dezembro foi prorrogado por mais três meses.

Com problemas financeiros atingindo não só pessoas físicas, mas também empresas, o Senado aprovou o projeto de lei que prorroga, por mais quatro anos, a chamada desoneração da folha salarial, espécie de incentivo fiscal destinado a 17 grandes setores da economia brasileira que mais empregam.

Duas tragédias, uma no Rio de Janeiro e outra no Oriente Médio, tiveram impacto na política do país. Em um quiosque no bairro da Barra da Tijuca, três médicos foram mortos e um ficou ferido após um ataque de homens armados. Uma das vítimas era irmão da deputada federal Sâmia Bombim (PSOL-SP), que se afastou das atividades parlamentares por um tempo pouco depois do episódio.

Chegou a se suspeitar de crime político. No entanto, ao longo das investigações, se constatou que um dos colegas do irmão de Sâmia pode ter sido confundido com um acusado pelo Ministério Público estadual de integrar a milícia de Rio das Pedras.

Já em Israel, um ataque do grupo Hamas provocou diversas mortes e sequestros. O Estado israelense respondeu com ataques em territórios palestinos, em busca de pessoas que tivessem ligação com a coordenação dos ataques e com o Hamas.

A Faixa de Gaza foi a região mais afetada pelos ataques israelenses. Brasileiros e parentes de brasileiros que estavam no local esperaram por negociações do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, também chamado de Itamaraty, com países envolvidos no conflito, como Israel e Egito, este último com fronteira em Gaza. Apenas a partir de novembro os brasileiros e seus parentes puderam deixar Gaza e irem em direção ao Brasil, onde foram recebidos por Lula.

Lula é presidente da República desde 1º de janeiro
Lula é presidente da República desde 1º de janeiro | Foto: Rafa Neddermeyer I Agência Brasil

Mesmo após resistir ao flerte do Centrão, Lula cedeu e trocou Rita Serrano por Carlos Antônio Vieira Fernandes no comando da Caixa Econômica Federal. Em visita a Salvador no primeiro semestre, Rita dizia já ter ciência do risco de não ser mantida no cargo.

Novembro

Em novembro, o cenário geopolítico na América do Sul impactou diretamente no debate político nacional como em nenhum outro mês do semestre. Se a vitória eleitoral de Daniel Noboa no Equador, no mês anterior, teve um impacto menor, a campanha de Javier Milei na Argentina fez com que se temesse uma ruptura diplomática com o Brasil.

Em entrevista a uma emissora de TV local, o ultraliberal chegou a chamar Lula de corrupto. Após sua vitória eleitoral, porém, afagos foram feitos ao Palácio do Planalto. A começar pela visita a Brasília da chanceler escolhida por Milei, Diana Mondino, que conversou com o chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, sobre a relação entre os dois países.

Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira e deputada Diana Mondino
Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira e deputada Diana Mondino | Foto: Reprodução | Facebook

O continente ferveu também quando o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, demonstrou publicamente seu interesse em anexar o território de Essequibo, que corresponde a 74% da área da Guiana e que é rico em petróleo e minerais. Apesar da boa relação com a Venezuela, Lula precisou se posicionar contra os planos de Maduro.

Não só Lula, mas a classe política como um todo também precisou se posicionar com relação a ameaça de rompimento de uma mina da Braskem em Maceió. Capital de um estado que durante todo o ano viveu o embate entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador e ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), Maceió sofre ameaça enquanto trocas de acusações sobre a responsabilização do problema na mina são repercutidas em todo o país.

A polarização que atingiu Alagoas, porém, não se restringe ao estado e está presente em todo o país. Se por um lado o grupo governista via na delação de Mauro Cid sobre joias de Bolsonaro uma oportunidade para aumentar as chances de prisão do ex-presidente, a oposição foi “presenteada” com uma denúncia contra um dos principais responsáveis pela comunicação da campanha de Lula em 2022: o deputado federal André Janones (Avante-MG), suspeito de “rachadinha”.

Janones estava na crista da onda e dias antes foi elogiado pelo marqueteiro de Lula, Sidônio Palmeira, pelo seu trabalho com comunicação digital. A repercussão dos áudios em que o parlamentar admitiu pegar salário de assessores para pagar despesas pessoais foi tão grande que até o ex-assessor de Bolsonaro, Queiroz, que também é suspeito de envolvimento no mesmo tipo de crime, usou as redes sociais para tirar sarro.

Janones é deputado federal desde 2019
Janones é deputado federal desde 2019 | Foto: Foto Michel Jesus/Camara dos Deputados

O gabinete de Janones passou a não atender o telefone e a maioria dos seus correligionários na Câmara optou pelo silêncio. Dos seis deputados federais do Avante, quatro são de Minas, incluindo o próprio Janones. Nenhum deles se pronunciou. Os outros parlamentares do partido, Pastor Isidório (Avante-BA) e Waldemar Oliveira (Avante-PE), saíram em defesa do suspeito.

Em outros três assuntos a oposição fez críticas ao governo: a descoberta de que uma mulher condenada por tráfico de drogas visitou o prédio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a morte de um preso pelos atos golpistas de 8 de janeiro e a escolha de Flávio Dino para o lugar de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal.

No primeiro caso, uma reportagem do jornal Estado de S. Paulo apontou que Luciane Barbosa Farias, que é esposa de um líder do grupo Comando Vermelho no Amazonas, foi ao prédio público junto com uma comitiva de advogados representando a ONG da qual é presidente, a Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA). Segundo a Polícia Civil do Amazonas, a ILA é uma ONG que atua em prol dos presos ligados ao Comando Vermelho e é financiada com dinheiro do tráfico de drogas.

Segundo a Polícia Civil do Amazonas, Luciane é presidente de ONG financiada com dinheiro do tráfico de drogas
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, Luciane é presidente de ONG financiada com dinheiro do tráfico de drogas | Foto: Reprodução I Instagram

O ministro Flávio Dino e outros membros do governo disseram não saber da procedência de Luciane, que foi condenada a dez anos de prisão e recorre em liberdade. Em 19 de março, Luciane esteve com o secretário nacional de Assuntos Legislativos da pasta, Elias Vaz, enquanto que no dia 2 de maio, a presidente da ILA se encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais. O motivo das visitas seria levar as "denúncias de revistas vexatórias" no sistema prisional amazonense.

A morte de Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, mobilizou a oposição ao governo Lula a ir para as ruas pedindo justiça. Cleriston sofreu um mal súbito no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, durante o banho de sol. Em abril, ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por cinco crimes e virou réu.

No entanto, de acordo com registros da penitenciária, Cleriston sofria de diabetes e hipertensão e utilizava medicação controlada. Sua vulnerabilidade era de ciência do STF, apontaram bolsonaristas que passaram a pedir punição contra Alexandre de Moraes.

O clima pesado após os episódios, no entanto, não impediu Lula de nomear Flávio Dino ao cargo de ministro do STF. Sabatinado e aprovado pelo Senado no mês seguinte, o ex-governador do Maranhão será empossado na Corte apenas no ano que vem. Enquanto isso, especula-se quem ficará em seu lugar na pasta. Entre os cotados, estão Ricardo Lewandowski, Jaques Wagner e Simone Tebet.

Ministro da Justiça, Flávio Dino, foi indicado para vaga no STF
Ministro da Justiça, Flávio Dino, foi indicado para vaga no STF | Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

A desoneração da folha, aprovada pelo Senado, foi vetada por Lula em novembro. O Senado, no entanto, ainda insiste em reverter o veto.

Dezembro

A proximidade do verão fez com que o clima se tornasse um dos assuntos mais discutidos do país, inclusive no meio político. Para além da conversa de elevador sobre o calor em Salvador, autoridades em todo o mundo discutiram a mudança climática na COP28, que foi realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

O compromisso da Conferência, para todos os países, é triplicar as fontes renováveis. Ironicamente, o evento aconteceu em uma região do planeta, o Oriente Médio, que teve enorme crescimento econômico por conta da exploração do petróleo, combustível que não é renovável.

Quase um ano depois dos atos golpistas em Brasília, um novo ataque se tornou assunto de segurança nacional: a conta da primeira-dama Janja na rede social “X” foi invadida. Uma pessoa reivindicou o ataque em áudio. A Polícia investiga o caso.

Ataques contra a democracia não foram perdoados por Lula, que no indulto de Natal, excluiu os envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

Também teve um natal infeliz o ex-deputado estadual de São Paulo Fernando Cury, que foi condenado por importunação sexual pela Justiça do estado. Cury pode recorrer.

Em sessão histórica, o Congresso promulgou a emenda constitucional da reforma tributária. Após 30 anos de discussão, a reforma tributária simplificará a tributação sobre o consumo e provocará mudança na vida dos brasileiros na hora de comprar produtos e serviços, segundo seus defensores.

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